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O problema da "masculinidade"

20:21 | Ago. 20, 2018
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Tipo Notícia
Recentemente, um edital para concurso da PM do Paraná determinou que as e os concorrentes deveriam ter nível regular de “masculinidade”, que, segundo o documento, é referente ao indivíduo “não se impressionar com cenas violentas, suportar vulgaridades e não emocionar-se facilmente, tampouco demonstrar interesse em histórias românticas e de amor”. Nossa intenção neste texto será tentar entender como isso pode afetar o profissional e a sociedade.
 
Inicialmente, atentamos para o fato de que a instituição “parou no tempo”, visto que relaciona aquelas características ao gênero masculino. Principalmente nos últimos 50 anos, a complexidade de nossa sociedade amalgamou características antes consideradas masculinas e femininas de tal forma que se torna impossível tipificar estes comportamentos em termos binários, opostos e mutuamente excludentes.  Assim, há um equívoco em supor que independente da situação vivida, os sujeitos manteriam os mesmos traços, como, por exemplo, no caso de pessoas que apresentam o que se supõe ser “feminilidade”, serem incapazes de agir em uma situação de alto estresse. Identidades inflexíveis, portanto, inumanas. 
  
Por conseguinte, embora tenhamos a compreensão de que, mediante o atual cenário de guerra urbana e rural que vivenciamos, o ofício de um agente de segurança no Brasil é extremamente tenso e perigoso; percebemos, todavia, que o aumento de contingente policial orientado exclusivamente para o confronto não está conseguindo diminuir ou estacionar as estatísticas de violência. Assim, questionamos: que tipo de policial queremos? Um que seja selecionado pela sua baixa amabilidade? Que não tenha a capacidade de externar bons sentimentos, mas apenas sua disposição para o embate? Se a intenção do governo do Paraná é essa, devemos avisar que isso serve basicamente para alimentar os números da violência... tanto a cometida por policiais como a sofrida por eles. Afinal, o confronto deixa vítimas de todos os lados.
 
Por: 
Renata Maranhão, psicóloga
Márcio Pessoa, sociólogo

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