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Ainda bem que Marília viveu

11:52 | 05/12/2015
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Darlene, último papel de Marília Pêra na Globo, é parte genial de interpretação da atriz. Uma divorciada decadente, alcoólatra, fumante, maquiagem reforçando o tempo que tinha passado e a solidão de deixar de existir ou sobreviver àquela atmosfera almodoviana de Pé na Cova. Ela maquiava os mortos e ironizava os vivos. A vida da própria personagem, copo de gim na mão e ruminações cortantes.

Tenho a impressão que Miguel Falabella pensou antes na vida da atriz do que em Darlene.

Darlene foi se fazendo do que Marília era.

Marília também fez outros personagens depauperados e marcantes: Chanel, Suely em Pixote, a rancorosa Juliana em O Primo Basílio... Sim, fez a Perpétua no cinema. Isso depois da impagável interpretação de Joana Fomm, no horário nobre das novelas. Personagens psicológicos e, como ela mesmo dizia, máscaras que coreografavam o ser humano que ia criar no palco ou na televisão. Sabia descobrir outra possibilidade de ser humano dentro da interpretação.
[SAIBAMAIS2]
Pelo bem do teatro, ela foi mais atriz de teatro e levou para TV e cinema o palco.

Era uma assinatura visível. Do naipe de atrizes como Fernanda Montenegro, Marieta Severo, Irene Ravache, Eva Wilma e outras assim. Precisa, rigorosa, disciplinada, perseguidora da escrita certa. O curioso é que, apesar de ser uma atriz que não carecia de cenários ou outros recursos para dar vida a outros seres, adorava ter ao redor "o lixo cênico" ou os penduricalhos no corpo. Cílios, unhas grandes, coque...

Ainda bem que vi Marília Pêra atuar. Ainda mais quando quis ser ator e deixei pra lá um sonho que foi ficando pelo asfalto da Avenida da Universidade. Ainda bem que ela viveu 72 anos!
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