Aluna descobre três poemas inéditos de Carlos Drummond de Andrade
Especialista na obra do poeta mineiro confirmou que os textos recém-descobertos são inéditos. Confira a íntegra de um dos poemas
Uma aluna do curso de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo, encontrou três poemas desconhecidos do poeta, contista e cronista Carlos Drummond de Andrade. As informações são do O Globo.
Mayra de Souza Fontebasseo descobriu os trabalhos do poeta enquanto realizava uma pesquisa de iniciação científica sobre textos literários publicados na revista “Raça”.
De acordo com a estudante, o estilo dos textos chamou a sua atenção, pois são escritos em prosa poética, com traços em tom melancólico, que caracterizam a escrita do mineiro em sua juventude.
Os poemas foram publicados em junho de 1929, mas há suspeitas de que tenham sido escritos no início da década de 1920.
[SAIBAMAIS 4]
A aluna e seu orientador consultaram a “Bibliografia Comentada de Carlos Drummond de Andrade (1918-1934)”, de Fernando Py; e o “Inventário Dummoniano”, da Fundação Casa de Rui Barbosa; porém nenhum dos três poemas constavam nas publicações.
O crítico Antônio Carlos Secchin, especialista na obra de Drummond, também chegou a ser consultado. Após análise, ele constatou que o material era, de fato, inédito.
Confira a íntegra de um dos textos recém-descobertos:
"'O poema das mãos soluçantes, que se erguem num desejo e numa súplica'
Como são belas as tuas mãos, como são belas as tuas mãos pálidas como uma canção em surdina...
As tuas mãos dançam a dança incerta do desejo, e afagam, e beijam e apertam...
As tuas mãos procuram no alto a lâmpada invisível, a lâmpada que nunca será tocada...
As tuas mãos procuram no alto a flor silenciosa, a flor que nunca será colhida...
Como é bela a volúpia inútil de teus dedos...
O poema das mãos que não terão outras mãos numa tarde fria de Junho
Pobres das mãos viúvas, mãos compridas e desoladas, que procuram em vão, desejam em vão...
Há em torno a elas a tristeza infinita de qualquer coisa que se perdeu para sempre...
E as mãos viúvas se encarquilham, trêmulas, cheias de rugas, vazias de outras mãos...
E as mãos viúvas tateiam, insones, − as friorentas mãos viúvas...
O poema dos olhos que adormeceram vendo a beleza da terra
Tudo eles viram, viram as águas quietas e suaves, as águas inquietas e sombrias...
E viram a alma das paisagens sob o outono, o voo dos pássaros vadios, e os crepúsculos sanguejantes...
E viram toda a beleza da terra, esparsa nas flores e nas nuvens, nos recantos de sombra e no dorso voluptuoso das colinas...
E a beleza da terra se fechou sobre eles e adormeceram vendo a beleza da terra...
"O poema das mãos soluçantes, que se erguem num desejo e numa súplica"
Como são belas as tuas mãos, como são belas as tuas mãos pálidas como uma canção em surdina...
As tuas mãos dançam a dança incerta do desejo, e afagam, e beijam e apertam...
As tuas mãos procuram no alto a lâmpada invisível, a lâmpada que nunca será tocada...
As tuas mãos procuram no alto a flor silenciosa, a flor que nunca será colhida...
Como é bela a volúpia inútil de teus dedos...
O poema das mãos que não terão outras mãos numa tarde fria de junho
Pobres das mãos viúvas, mãos compridas e desoladas, que procuram em vão, desejam em vão...
Há em torno a elas a tristeza infinita de qualquer coisa que se perdeu para sempre...
E as mãos viúvas se encarquilham, trêmulas, cheias de rugas, vazias de outras mãos...
E as mãos viúvas tateiam, insones, − as friorentas mãos viúvas...
O poema dos olhos que adormeceram vendo a beleza da terra
Tudo eles viram, viram as águas quietas e suaves, as águas inquietas e sombrias...
E viram a alma das paisagens sob o outono, o voo dos pássaros vadios, e os crepúsculos sanguejantes...
E viram toda a beleza da terra, esparsa nas flores e nas nuvens, nos recantos de sombra e no dorso voluptuoso das colinas...
E a beleza da terra se fechou sobre eles e adormeceram vendo a beleza da terra..."
Redação O POVO Online