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Aluna descobre três poemas inéditos de Carlos Drummond de Andrade

Especialista na obra do poeta mineiro confirmou que os textos recém-descobertos são inéditos. Confira a íntegra de um dos poemas

18:49 | 18/11/2015
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Uma aluna do curso de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo, encontrou três poemas desconhecidos do poeta, contista e cronista Carlos Drummond de Andrade. As informações são do O Globo.

Mayra de Souza Fontebasseo descobriu os trabalhos do poeta enquanto realizava uma pesquisa de iniciação científica sobre textos literários publicados na revista “Raça”.

De acordo com a estudante, o estilo dos textos chamou a sua atenção, pois são escritos em prosa poética, com traços em tom melancólico, que caracterizam a escrita do mineiro em sua juventude.

Os poemas foram publicados em junho de 1929, mas há suspeitas de que tenham sido escritos no início da década de 1920.
[SAIBAMAIS 4]
A aluna e seu orientador consultaram a “Bibliografia Comentada de Carlos Drummond de Andrade (1918-1934)”, de Fernando Py; e o “Inventário Dummoniano”, da Fundação Casa de Rui Barbosa; porém nenhum dos três poemas constavam nas publicações.

O crítico Antônio Carlos Secchin, especialista na obra de Drummond, também chegou a ser consultado. Após análise, ele constatou que o material era, de fato, inédito.

Confira a íntegra de um dos textos recém-descobertos:

"'O poema das mãos soluçantes, que se erguem num desejo e numa súplica'

Como são belas as tuas mãos, como são belas as tuas mãos pálidas como uma canção em surdina...

As tuas mãos dançam a dança incerta do desejo, e afagam, e beijam e apertam...

As tuas mãos procuram no alto a lâmpada invisível, a lâmpada que nunca será tocada...

As tuas mãos procuram no alto a flor silenciosa, a flor que nunca será colhida...

Como é bela a volúpia inútil de teus dedos...

O poema das mãos que não terão outras mãos numa tarde fria de Junho

Pobres das mãos viúvas, mãos compridas e desoladas, que procuram em vão, desejam em vão...

Há em torno a elas a tristeza infinita de qualquer coisa que se perdeu para sempre...

E as mãos viúvas se encarquilham, trêmulas, cheias de rugas, vazias de outras mãos...

E as mãos viúvas tateiam, insones, − as friorentas mãos viúvas...

O poema dos olhos que adormeceram vendo a beleza da terra

Tudo eles viram, viram as águas quietas e suaves, as águas inquietas e sombrias...

E viram a alma das paisagens sob o outono, o voo dos pássaros vadios, e os crepúsculos sanguejantes...

E viram toda a beleza da terra, esparsa nas flores e nas nuvens, nos recantos de sombra e no dorso voluptuoso das colinas...

E a beleza da terra se fechou sobre eles e adormeceram vendo a beleza da terra...

"O poema das mãos soluçantes, que se erguem num desejo e numa súplica"

Como são belas as tuas mãos, como são belas as tuas mãos pálidas como uma canção em surdina...

As tuas mãos dançam a dança incerta do desejo, e afagam, e beijam e apertam...

As tuas mãos procuram no alto a lâmpada invisível, a lâmpada que nunca será tocada...

As tuas mãos procuram no alto a flor silenciosa, a flor que nunca será colhida...

Como é bela a volúpia inútil de teus dedos...

O poema das mãos que não terão outras mãos numa tarde fria de junho

Pobres das mãos viúvas, mãos compridas e desoladas, que procuram em vão, desejam em vão...

Há em torno a elas a tristeza infinita de qualquer coisa que se perdeu para sempre...

E as mãos viúvas se encarquilham, trêmulas, cheias de rugas, vazias de outras mãos...

E as mãos viúvas tateiam, insones, − as friorentas mãos viúvas...

O poema dos olhos que adormeceram vendo a beleza da terra

Tudo eles viram, viram as águas quietas e suaves, as águas inquietas e sombrias...

E viram a alma das paisagens sob o outono, o voo dos pássaros vadios, e os crepúsculos sanguejantes...

E viram toda a beleza da terra, esparsa nas flores e nas nuvens, nos recantos de sombra e no dorso voluptuoso das colinas...

E a beleza da terra se fechou sobre eles e adormeceram vendo a beleza da terra..."

Redação O POVO Online

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