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Papa viaja a um Brasil com menos católicos e mais descontentamento social

A cidade do Rio de Janeiro, por sua vez, já começou a receber freiras e sacerdotes, além de peregrinos com camisetas e mochilas com as cores da bandeira brasileira

07:46 | 22/07/2013

RIO DE JANEIRO, Estado do Rio de Janeiro, 22 Jul 2013 (AFP) - O papa Francisco, defensor de uma igreja missionária e próxima dos pobres, chega nesta segunda-feira a um Brasil atingido por um crescente descontentamento social, em plena transformação religiosa.

O papa argentino saiu de Roma nesta segunda-feira pouco antes das 09h00 (04h00 de Brasília). Fiel a sua reputação de simplicidade, chegou ao avião carregando ele mesmo sua bagagem de mão, uma maleta preta.

"Chego ao Rio em algumas horas e meu coração está cheio de alegria porque em breve estarei com vocês para celebrar a XXVIII JMJ", a Jornada Mundial da Juventude, escreveu o papa em um tuíte em espanhol antes de iniciar a viagem.

O Papa presidirá a jornada, que será realizada de 23 a 28 de julho e que deve contar com a presença de 1,5 milhão de pessoas, em sua primeira viagem à região onde nasceu e viveu por quase toda a sua vida até chegar ao trono de Pedro.

A cidade do Rio de Janeiro, por sua vez, já começou a receber freiras e sacerdotes, além de peregrinos com camisetas e mochilas com as cores da bandeira brasileira.

Francisco, que defende uma Igreja austera, próxima dos pobres e do povo, intensificou sua agenda diante do anúncio de vários protestos durante sua visita, insistindo em passear pelo centro do Rio em um papamóvel descoberto imediatamente depois de sua chegada, prevista para as 16h00 (horário de Brasília).

O Vaticano afirma que o pontífice não está preocupado com os protestos e os especialistas afirmam que seu discurso de reforma de uma Igreja em crise, contra o desperdício e em defesa dos mais pobres, está em sintonia com o dos manifestantes.

As operações de segurança, no entanto, contarão com cerca de 30.000 militares e policiais.

Favela, viciados e Aparecida

Em seus sete dias no Brasil, o primeiro Papa latino-americano, de 76 anos, fará um discurso na praia de Copacabana, visitará uma favela da cidade e também Aparecida, o maior santuário católico do Brasil, se reunirá com presos, com viciados em crack, com os astros do futebol Pelé, Neymar e Zico e com milhares de peregrinos.

Durante sua reunião durante a noite com a presidente Dilma Rousseff no Palácio Guanabara, o grupo Anonymous Rio convocou via redes sociais um protesto contra os 53 milhões de dólares pagos pelos contribuintes brasileiros por sua visita e pela JMJ, enquanto os ateus protestarão pelo mesmo motivo e convocaram um "desbatismo" coletivo.

O cansaço com a corrupção na classe política e com a péssima qualidade dos transportes, da saúde e da educação pública levaram mais de um milhão de brasileiros - sobretudo jovens da classe média - a protestar nas ruas em junho, em plena Copa das Confederações.

Menos desperdício e melhores serviços

Católicos brasileiros como Adilson de Sena, de 60 anos, que aluga cadeiras e barracas e vende bebidas na praia de Copacabana, convocam os governantes a seguir o exemplo de austeridade do Papa.

"Os governantes têm que se sensibilizar com o Papa e investir mais no país. Não era preciso tudo isso", afirma Adilson apontando para o enorme palco onde Francisco dará as boas-vindas aos jovens da JMJ na quinta-feira.

Edina Maria Pereira Lima, uma cozinheira evangélica de 49 anos, sofre na pele vários dos problemas do país: precisa fazer exames, mas não pode pagar um plano de saúde e sua carteira foi roubada na semana passada.

"O governo está colocando uma fachada para que o mundo veja o melhor do Brasil. Mas por trás desta fachada há gente morrendo nos hospitais", lamentou enquanto passava o domingo na praia, junto ao palco que receberá o Papa.

Francisco aproveitará a JMJ para reforçar a tarefa missionária da Igreja e tentar revitalizá-la na América Latina, seu maior feudo, mas onde perde espaço há três décadas.

Cerca de 64,6% dos brasileiros são católicos, segundo o censo de 2010, contra 91,8% em 1970. E uma pesquisa do Instituto Datafolha divulgada no último domingo indicou que eles atualmente representam apenas 57% da população de 194 milhões de habitantes.

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