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Ex-procurador geral da República diz que versão de Ustra é "insustentável"

11:01 | 11/05/2013

Para o ex-procurador geral da República Cláudio Fonteles, um dos membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV), o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, ao ser confrontado com a documentação reservada do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna do 2º Exército (DOI-Codi), “deu uma versão insustentável de mortes em combate”. Documentos apresentados pela CNV apontam em 50 o número de mortos no órgão durante o período em que foi dirigido pelo coronel. Ustra foi o primeiro dos oficiais influentes da ditadura militar a ser ouvido pela CNV, na última sexta-feira. Na ocasião, ele chegou a afirmar que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) integrou grupos terroristas e ainda negou que tenham havido mortes no DOI-Codi.

Já o advogado e ex-defensor de presos políticos José Carlos Dias, que também integra a CNV, o depoimento foi emocionalmente forte e mexeu com os presentes. “Hoje foi um dia muito penoso para mim. Eu defendi mais de 500 presos políticos e a maior parte vítimas do coronel Ustra. Defendi pessoas que foram mortas sob as ordens dele”.

O Planalto não comentou a declaração de Ustra. Muitas respostas do coronel causaram risos de ironia na plateia. Ele chegou a afirmar que Frederico Eduardo Mayr, um dos assassinados, foi atropelado por um caminhão. O coronel não negou que teve o comando real do DOI-CODI.

No momento mais tenso da reunião, Claudio Fonteles leu dois documentos sobre 45 mortes dentro do DOI-CODI, em São Paulo, no mês de outubro de 1973, e outras 47 em dezembro. Ustra voltou a falar. "Esse documento `secreto' foi publicado no meu livro", disse o coronel, em tom de ironia. Fonteles reclamou que ele usava o livro "A verdade sufocada" como "escudo". Ustra disse que os documentos foram manipulados. "No meu comando, ninguém foi morto dentro do DOI-CODI, mas em combates", afirmou. Fonteles comentou: "Não se exalte". "A mentira me revolta", retrucou Ustra. "Não é mentira", reagiu Fonteles. "Não foram santinhos, anjinhos, foram mortos em combates nas ruas", afirmou o coronel.

Ustra se comportou como se fosse dono da situação. "Acabou, não falo mais", disse. Fonteles observou: "O senhor responde se quiser, mas não acabou". O coronel chegou a interromper a fala de Fonteles. Ustra oscilava entre o nervosismo e a raiva, criando situações típicas de uma figura quase hilária. As imagens de corpos de vítimas da ditadura no telão, no entanto, lembravam que o momento não era de diversão.

 

Redação O POVO Online com agências

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