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Tango para Evaldo
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Tango para Evaldo

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Evaldo Gouveia é um dos personagens tratados no podcast
 (Foto: Zé Rosa / 1970)
Foto: Zé Rosa / 1970 Evaldo Gouveia é um dos personagens tratados no podcast

A música é uma forte responsável por conexões de gerações, isto é inegável. Em março do ano passado, a cantora gaúcha Valéria Houston apresentou-se em Fortaleza pela primeira vez, ao lado do amigo Silvero Pereira, em show produzido pelo coletivo cearense As Travestidas. Ali no palco do Anfiteatro do Dragão do Mar, Valéria mostrou uma versão de Tango para Teresa em um pot-pourri com canção de Simone Mazzer, intitulada Tango do Mal. As duas músicas, juntas, pareceram só uma, durante a interpretação da cantora, que tem obra balizada por diversas gerações e estilos da música brasileira, inclusive Evaldo Gouveia, o autor do Tango para Teresa - ao lado de seu mais frequente parceiro musical, Jair Amorim.

Para chegar ao patamar do compositor reverenciado que é, Evaldo andou caminhos que partem da cidade de Iguatu, no interior do Ceará, de onde saiu aos 11 anos para estudar na Capital. Foi lá onde nasceu, em 8 de agosto de 1928, e onde descobriu a música, ainda criança. No ano de 1950, Evaldo fundou o Trio Nagô, ao lado dos amigos Mário Alves e Epaminondas de Souza. Juntos, foram contratados pela Rádio Jornal do Brasil e, logo depois, pelas boates Vogue (RJ) e Oásis (SP). Em 1957, Evaldo compôs sua primeira obra, intitulada Deixe que Ela Se Vá, parceria com Gilberto Ferraz, fazendo sucesso na voz de Nelson Gonçalves.

A carreira do cearense teve uma guinada exponencial quando passou a compor com o capixaba Jair Amorim. Os músicos se conheceram em 1958 e, desde então, suas vidas mudaram. Em entrevista ao O POVO, em 1977, Jair celebrou que a parceria, àquela época, já era uma das mais duradouras da música brasileira. "Nosso relacionamento é muito harmonioso e acho que isto acontece justamente porque somos dois temperamentos completamente diferentes. O Evaldo me entende em tudo", disse em entrevista ao jornalista Carvalho Nogueira realizada no Estoril.

Na década de 1970, Evaldo já era considerado um dos maiores compositores do Brasil. "Escreva aí que Evaldo Gouveia não é somente o grande compositor. É também o mais rico entre cantores e compositores brasileiros. Além de faturar muito bem, é um homem que não faz bobagens, muito equilibrado", comentou o parceiro. Segundo Jair, o processo de feitura das músicas funcionava assim: Evaldo fazia a melodia, passava ao violão para o parceiro escutar. A partir disto, Jair passava a compor mentalmente e só depois é que passava para o papel.

E assim nasceram clássicos do cancioneiro brasileiro como Sentimental Demais, O Conde, Alguém me Disse, Brigas, Que Queres Tu de Mim, O Trovador, Sentimental Demais, e a lista segue. As músicas continuam a ser revisitadas por diferentes gerações. A obra de Evaldo ganhou visibilidade na voz de grandes intérpretes, já que ele mesmo nunca foi um cantor tão assíduo assim. Entre os artistas estão medalhões como Angela Maria, Jair Rodrigues, Anísio Silva, Maysa, Gal Costa, Elba Ramalho, Altemar Dutra, Cauby Peixoto, Ney Matogrosso, Wilson Simonal, Fafá de Belém, Maria Bethânia, Zizi Possi, Emílio Santiago e Dalva de Oliveira.

Em sua trajetória, Evaldo teve outros parceiros, estes não tão frequentes quanto Jair, mas que deram novos contornos à sua obra. O também cearense Fausto Nilo é uma destas figuras, que inventou poema para uma melodia do amigo, dando vida a Esquina do Brasil.

Em Fortaleza, uma parte da obra de Evaldo é celebrada também nos Carnavais. Em 2011, o período momino da Capital homenageou o cearense de Iguatu, inclusive, com o lançamento do disco duplo O Trovador - Uma homenagem a Evaldo Gouveia. O repertório do bloco Luxo da Aldeia também anima os carnavais da Capital, interpretando obra de compositores cearenses, incluindo Evaldo. O grupo faz a Praça do Ferreira dançar e cantar as composições, mostrando que os clássicos marcam a história da música há mais de 60 anos e seguem repercutindo com força em praças, bares, restaurantes, casas de show, rádios, vitrola. "Fortaleza tem condições de também fazer o seu bom Carnaval, reunindo aqui grupos de verdadeiros foliões, trazendo grandes atrações e mantendo uma programação intensa de quatro dias de verdadeira folia", disse Evaldo ao O POVO em 1977. E não é que ele estava certo?

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