Logo O POVO+
Tambores que ecoam além-mar
Vida & Arte

Tambores que ecoam além-mar

| VAKINHA | Filme cearense Tremor Iê, das diretoras Elena Meirelles e Lívia de Paiva, conta com campanha de financiamento coletivo para participar do Festival FIDMarseille, na França
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
"Tremor Iê" (2019), de Lívia de Paiva e Elena Meirelles
 (Foto: divulgação)
Foto: divulgação "Tremor Iê" (2019), de Lívia de Paiva e Elena Meirelles

Após sua estreia na Mostra de Cinema de Tiradentes (MG), no final de janeiro, o filme cearense Tremor Iê pretende lançar-se além-mar. Único filme brasileiro em duas mostras no Festival FIDMarseille, Competitiva Internacional e Competitiva de Primeiro Filme, a equipe de atrizes, diretoras e roteiristas do longa-metragem abriu uma campanha de financiamento coletivo na internet para custear suas despesas na França. A meta é conseguir, via plataforma Vakinha, a quantia de R$ 8.450, referentes basicamente a hospedagem, alimentação e traslados. De Tiradentes para cá, a repercussão da produção, que traz à tona histórias de mulheres e de resistência em meio a opressão, tem sido a melhor possível.

"A gente teve a possibilidade de circular em outros espaços também, como nas escolas públicas do Rio de Janeiro e em Belford Roxo. Foram momentos muito importantes onde as pessoas trouxeram a narrativa do filme como identificação da sua própria história de vida. Como a gente coloca o filme com uma não-existência de herói - ou heroína, no caso - então há uma identificação muito grande e muito forte da questão da resistência de corpos não-normativos ocuparem espaços e permaneceram resistindo. Essa força que o filme traz dessa ausência de herói é o que muitas pessoas acabam se identificando fortemente também com ele também", credita Deyse Mara.

Uma das protagonistas do longa-metragem ao lado de Lila M Salú, Deyse coloca o atual contexto político como um ponto relevante para a história, ambientada em meio às manifestações populares ocorridas no ano de 2013. "O filme traz, de certo modo, um futuro utópico que a gente não sabe quando existe uma opressão maquiada, então esse contraste é uma coisa muito emblemática também com os dias atuais que a gente está vivenciando", resume. Em cena, Tremor Iê entrelaça a história das amigas Janaína e Cássia a de muitas outras anônimas. "O Tremor são vivências também de diversas outras mulheres que vivem a questão do cárcere. Então, a gente colocar isso num curta, era pouco tempo", reconhece Deyse, que traduz o significado do título do longa-metragem.

"Quando a gente começou a criar o projeto, ele estava meio sem nome, mas já trazia muito a força do tambor no filme, que são resistências através do tambor, da música e opressão nela também. Então o 'tremor' é do batuque do tambor e o 'iê' é o grito da capoeira que, além de abrir a roda, também traz o significado de mãe. É o tambor, que é nossa mãe, que é nossa ancestralidade. Esse é o significado que, particularmente, eu trago", define Deyse, destacando a representatividade em todo o processo de construção do grupo. "Cotidianamente a gente discute muito essa questão. Quando a gente soube da viagem e, sabendo que o nosso processo é muito horizontal, os nomes dados foram só o meu e da Lila. Mas o filme é costurado por várias mãos e é um processo que continua sendo contínuo".

Elena Meirelles, que divide a direção de Tremor Iê com Lívia de Paiva, analisa a inserção de um cinema eminentemente negro, periférico, LGBTQ no atual contexto. "Eu acho que é tão importante quanto nos outros contextos que essas narrativas existam especialmente pra nós. Pra gente poder criar nossas narrativas, nossas existências, nossa forma de narrar a vida e estruturá-la e ela existe muito pra isso: pra gente se reconhecer, pra gente poder se inventar, sentir que a gente cabe nessa narrativa e tem pontos de identificação e de respiro dentro dos contextos duros e de realidades diferentes", frisa. "A importância agora de ir para fora e exibir nosso filme é por fazer questão também desse reconhecimento que é dado a filmes com uma hegemonia predominantemente masculina, branca e heterossexual. Eu acho que esse reconhecimento é importante e que a nossa narrativa vai dividir lugar, dividir espaços que não são majoritariamente ocupados por nós", complementa Elena.

 

Campanha Vakinha Tremor Iê

Quando: até dia 8 de julho 

Valor da meta: R$ 8.450

Para colaborar: 

https://bit.ly/2Xkm2nS

O que você achou desse conteúdo?