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Live-action da Turma da Mônica concretiza encanto da obra original
Vida & Arte

Live-action da Turma da Mônica concretiza encanto da obra original

| Crítica | Transposição do universo criado por Maurício de Sousa para o live-action encanta mais do que a trama de solidariedade em si - e tudo bem
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O filme live-action foi adaptado da graphic novel Turma da Mônica - Laços, de Vitor e Lu Cafaggi (Foto: divulgação)
Foto: divulgação O filme live-action foi adaptado da graphic novel Turma da Mônica - Laços, de Vitor e Lu Cafaggi

Como bem disse o diretor Daniel Rezende, responsável pela direção da adaptação da graphic novel Turma da Mônica - Laços para o cinema, "o Brasil tem 200 milhões de fãs número 1" da turminha criada há 60 anos por Mauricio de Sousa. Inicialmente em gibis e histórias em quadrinhos, a obra foi se espalhando por diversas outras plataformas e linguagens - da animação cinematográfica em Cinegibi, O Filme ao Mônica Toy, programete curto voltado para as crianças menores e disponível na internet. A bem-sucedida e respeitosa transição das personagens para o formato live-action (ou seja, com atores reais),  por si só, já faz o filme merecer elogios.

Dão vida aos célebres personagens da turma no filme os atores mirins Giulia Benite (Mônica), Laura Rauseo (Magali), Kevin Vechiatto (Cebolinha) e Gabriel Moreira (Cascão). Com roteiro de Thiago Dottori adaptado da graphic novel de Vitor e Lu Cafaggi, Turma da Mônica - Laços parte do desaparecimento de Floquinho, o cachorrinho verde de Cebolinha, para criar uma narrativa que fala, especialmente, de amizade e solidariedade - os tais "laços" do título são concretos no contexto da trama, mas também cumprem função simbólica. Junta, a turma da Mônica parte em uma aventura para descobrir o que aconteceu ao cão e passa por diferentes desafios.

A trama que sustenta a narrativa não tem grande destaque por si só, o que também pode ser entendido como uma escolha inteligente do roteiro. Por ser um primeiro filme live-action a se passar naquele universo (ou seja, uma "apresentação"), o melhor seria apostar mais no seguro e menos na invenção - e, consequentemente, no risco. Há momentos que fogem um pouco dessa lógica mais "quadrada", mas é ela que norteia a produção. Melhor, porém, não revelar muito dessas fugas para não estragar potenciais surpresas.

A construção de uma história edificante é bem-vinda à medida em que o recado/lição/"moral da história" chegará, potencialmente, em um bom número de pessoas dado o alcance que a Turma da Mônica tem enquanto fenômeno da cultura brasileira. Laços reforça a máxima de que cada um de nós tem forças que, somadas, fazem todos mais fortes - a união faz a força, como diz o ditado.

Para quem consumiu ao longo da vida as diferentes obras nas quais o universo das HQs se ramificou, chama mais atenção do que a trama em si justamente a transposição para a "vida real" daqueles elementos lúdicos e marcantes dos gibis - o coração bate mais forte a cada primeira aparição ou referência feita. Mesmo que esse potencial seja óbvio de ser aproveitado, Turma da Mônica - Laços consegue aproveitá-lo de maneira inteligente, sem esgotar esses momentos de maior impacto somente no início do longa. Assim, eles se estendem durante toda a duração da obra, ficando a constante e envolvente sensação de curiosidade pela próxima "piscadela" ao leitor dos gibis que o filme fará.

Além dos efeitos de emoção, surpresa e nostalgia, os elementos concretos e práticos que efetuam essa transição entre as linguagens são dignos de nota. Há nos cenários, nos figurinos e na direção de arte geral uma tendência à estética vintage, porém sem maiores marcadores de tempo. Dessa forma, o filme chega com uma impressão de atemporalidade que funciona bem para o contexto da produção. As casas têm cerca baixa, a vizinhança se conhece, há mais bicicletas do que carros, enfim, há um ideal de idílio. É inalcançável, de fato, mas encanta e inspira, assim como nos quadrinhos.

 

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