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| Lançamento | Novo MIB, Homens de Preto - Internacional tenta reviver franquia com a química de Tessa Thompson e Chris Hemsworth e suposto discurso feminista
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Agente M (Tessa Thompson) e Agente H (Chris Hemsworth) são a nova geração da dupla Will Smith/Tommy Lee Jones (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Agente M (Tessa Thompson) e Agente H (Chris Hemsworth) são a nova geração da dupla Will Smith/Tommy Lee Jones

No ápice de Vingadores: Ultimato, em meio a uma imensa batalha, o conjunto de super-heroínas da Marvel surge destacado do supergrupo numa imposição de "girl power". No início de X-Men: Fênix Negra, Mística questiona se os mutantes deveriam ser chamados de "X-Men" ("Homens X"), já que eram as mulheres que sempre salvavam os rapazes da equipe. A moda atual de blockbusters é essa versão aguada e forçada de feminista. Nessa linha, MIB: Homem de Preto - Internacional, de F. Gary Gray, é mais uma obra a incluir uma protagonista mulher em um ambiente outrora masculino e achar que o discurso de inclusão se basta em si.

Quando o roteiro não constrói os personagens diante do tema, o discurso de minoria soa apenas oportunista. E, bem, o cinema comercial se ancora mesmo no ganho fácil e a diversidade anda em voga no meio de entretenimento — vide o sucesso de Capitã Marvel, Pantera Negra e até Alita: Anjo de Combate. Assim, soa ingênuo, até bobo, quando a Agente O (Emma Thompson) pede para a Agente M (Tessa Thompson) desistir de questionar o nome dos agentes secretos internacionais que lidam com ameaça e diplomacia alienígena, os homens de preto. 

Não que a franquia, outrora protagonizada por Will Smith e Tommy Lee Jones, tenha primado pela profundidade nos três filmes originais. O terceiro até tem uma força sentimental marcante. Só que Homens de Preto é entretenimento puro. É, por vezes, o trunfo do design de produção sobre o roteiro. É o suprassumo da imaginação. É fantasia, não ficção científica. Daí a reflexão não ser lá o metiê empregado. O que dói são as oportunidades desperdiçadas.

A leveza de uma obra não se mede com a mesma régua da robustez de um roteiro. Trocando em miúdos, um filme pode ser agradável, divertido, e apresentar camadas de profundidade. Por exemplo, o mundo vive uma crise migratória sem precedentes. MIB podia tratar de alienígenas refugiados fugindo de uma guerra intergalática. Tanto os três filmes originais quanto este novo são protagonizados por um personagem negro e outro branco. Por que não usar os ETs — que vêm em qualquer cor ou credo e podem se disfarçar para qualquer cor ou credo — para pautar o racismo. Por que a protagonista mulher e negra parece ignorar que vive numa sociedade que lhe dá muito menos oportunidades do que para homens e/ou brancos?

A iniciativa de inclusão, porém, não chega a ser descartável. É talvez a primeira onda de protagonismo diversificado de Hollywood e, por mais que seja oportunista, é um avanço. Com o lucro, surge o hábito. E Tessa Thompson merece os holofotes que Will Smith ganhou em 1997 com o primeiro MIB.

Em Homem de Preto - Internacional, a lógica da primeira trilogia se inverte. A agente M (Thompson) empresta parte da seriedade de Tommy Lee Jones e o agente H (Chris Hemsworth) faz sua versão da galhofa de Will Smith. Quase como em Thor: Ragnarok (2017), a química cômica carrega o filme com uma bela dose de leveza. Dessa vez, porém, sem os aspectos aleatórios dos mais diferentes das obras da Marvel.

Apesar de divertida, a nova empreitada de MIB no cinema vem com cheiro de naftalina. O impacto visual, principalmente na direção de arte — responsável pelo visual dos alienígenas — não tem a mesma força que em 1997. E a ação soa bem repetitiva, com as trocas de armas por outras maiores e a repetição de piadas para despertar o saudosismo dos fãs. E o roteiro segue na genérica busca por insígnias perdidas e marejada de plot twists óbvios. Homens de Preto - Internacional tinha a chance de se impor pelo diferencial inclusivo, que poderia servir de espelho para uma nova geração de fãs. Hollywood, porém, sempre vai optar pelo seguro e convencional.

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