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Retrato histórico da sociedade peruana
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Retrato histórico da sociedade peruana

| Museu da Fotografia Fortaleza | Mostra Estúdio de Arte Irmãos Vargas encontra Martín Chambi apresenta fotografias representantes do povo andino
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Museu da Fotografia Fortaleza traz Irmãos Vargas e Martín Chambi. A mostra
Foto: Irmãos Vargas/ Divulgação Museu da Fotografia Fortaleza traz Irmãos Vargas e Martín Chambi. A mostra "Estúdio de Arte Irmãos Vargas encontra Martín Chambi" é inédita no Brasil.

A história da fotografia na América Latina é marcada pela construção de imaginários políticos e sociais por meio da imagem — a rica multiplicidade de povos, línguas e territórios reflete uma plural abordagem artística. No Peru, três renomados fotógrafos radiografaram o cotidiano de cidades andinas no século XX: os irmãos Carlos e Miguel Vargas Zaconet e Martín Chambi Jiménez. Com um acervo de obras produzidas pelos peruanos entre 1912 e 1941, a mostra Estúdio de Arte Irmãos Vargas encontra Martín Chambi será inaugurada no Museu da Fotografia Fortaleza (MFF) neste sábado, 1º de junho. Na ocasião, será apresentado o monólogo Existência. Imagem. Abandono., de Diógenes Moura, também curador da exposição que é inédita no Brasil.

Testemunhas da memória, os irmãos fotógrafos Carlos e Miguel Vargas Zaconet — nascidos na cidade de Arequipa em 1885 e 1887, respectivamente — vivenciaram a efervescência cultural de Lima, Cuzco e também Arequipa: quando fabricaram a primeira máquina fotográfica deles, ainda em 1990, os irmãos despertaram a atenção do reconhecido fotógrafo Máximo T. Vargas e logo começaram a trabalhar em seu estúdio de fotografia. Em 1912, a dupla abriu seu próprio estúdio e recebeu poetas, escritores, dançarinos e atores no espaço de difusão.

Também discípulo de Máximo T. Vargas, Martín Chambi foi um dos primeiros grandes fotógrafos indígenas da América Latina. Nascido em 1891 num povoado chamado Coasa, no departamento de Puno, Chambi foi contemporâneo dos Irmãos Vargas e também é consagrado pelo amplo trabalho antropológico que retrata a herança do processo de colonização no Peru. Em 1923, abriu em Cuzco novo estúdio para registrar os compatriotas indígenas e viajou pelos Andes para cartografar paisagens. "O Chambi tem uma obra talvez ainda mais politica que os Irmãos Vargas. Ele sempre retratou o povo peruano, as suas origens. Mas a semelhança entre esses fotógrafos são profundas: todos eles fotografaram a natureza exterior e interior", pontua o curador Diógenes Moura.

Escritor, editor e curador de fotografia independente, Diógenes Moura foi curador da Pinacoteca do Estado de São Paulo entre 1998 e 2013. Exímio pesquisador da obra dos três fotógrafos peruanos, o paulista considera a exposição única. "São acervos fabulosos, nenhum museu tem um acervo tão potente dos Vargas e do Chambi como o Museu da Fotografia Fortaleza agora. A exposição é um diálogo entre eles: são 74 imagens dos Irmãos Vargas e 26 do Chambi, todas em preto e branco. A mostra começa pelos retratos, depois percorre os planos abertos e tem um espaço dedicado aos mestres Max T. Vargas e Emilio Díaz". Costurando a exposição, oito textos de Diógenes narram os trajetos percorridos pelos andinos.

A mostra Estúdio de Arte Irmãos Vargas encontra Martín Chambi fica em exposição ao público durante quatro meses — mas o acervo, para ventura do Estado, foi comprado pelo Museu da Fotografia Fortaleza. Criado em 2017 por Paula e Silvio Frota, o equipamento possui cerca de 2.700 obras e realiza um diversificado trabalho educacional. "Nós adquirimos essas duas exposições fechadas e o Diógenes, estudioso desses obras, sugeriu essa exposição inédita que coloca os fotógrafos em diálogo. É uma obra lindíssima, é um privilégio para Fortaleza", defende Silvio Frota.

Diógenes alerta: "Quem tiver com pressa, não vá para o museu. É uma exposição silenciosa, que requer um tempo reflexivo sobre o olhar e sobre o corpo. É um momento de tanta beleza, é uma possibilidade de você encontrar o outro de uma forma tão honesta e tão digna que é uma alegria vivida nesse País tão despedaçado. A exposição é uma ilha de silêncio para se observar o trabalho de extrema beleza desses três peruanos", encerra.

Estúdio de Arte Irmãos Vargas encontra Martín Chambi

Quando: abertura no sábado, 1°. Duração de quatro meses

Visita mediada: 10 horas

Monólogo: 11h30min

Visitação: Gratuita, de quarta a domingo, de 12h às 17 horas

Onde: Museu da Fotografia Fortaleza (rua Frederico Borges, 545 - Varjota)

Telefone: (85) 3017 3661

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