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Percursos de um salão
Vida & Arte

Percursos de um salão

| V&A viu | Inspirado no Salão Sequestrado, evento realizado em 2017, o Salão de Abril aposta na itinerância e ocupa simultaneamente cinco espaços com exposições na Cidade. Visitamos alguns deles, incluindo o CCBNB, que abre as portas ao público hoje
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Imagens do Salão de Abril na Casa do Barão de Camocim (Foto: NICOLAS LEIVA/DIVULGAÇÃO SECULTFOR)
Foto: NICOLAS LEIVA/DIVULGAÇÃO SECULTFOR Imagens do Salão de Abril na Casa do Barão de Camocim

Ao longo de suas 70 edições, o Salão de Abril, principal evento de artes visuais realizado na Capital, já esteve no centro de muitas discussões. Da ausência de realização em alguns anos até questões sobre a remuneração dos artistas, do modelo de curadoria até os espaços escolhidos para implantação. No ano que completa sete edições, entretanto, o salão aflora com uma nova proposta: a itinerância. Disposto em cinco locações, o evento vai do Centro à Aldeota, do Mondubim ao José de Alencar. Minimuseu Firmeza, Sem Título Arte, Centro Cultural Casa do Barão de Camocim, Espaço Cegás de Cultura e Centro Cultural Banco do Nordeste - que terá mostra aberta hoje - recebem peças do Salão de Abril.

"Acho que o público deve começar pelo Minimuseu Firmeza, pois lá inicia o entendimento desse grande guarda-chuva em que o salão foi posto e está, a todo momento, se relacionando de uma forma sutil ou não. Não diretamente iguais aos de Nice e Estrigas, mas com outro sentido e outra realização", explica Jacqueline Medeiros, curadora do Salão de Abril ao lado de Herbert Rolim e Solon Ribeiro. Nice e Estrigas, artistas cearenses que morreram em 2013 e 2014, respectivamente, são os homenageados no aniversário de sete décadas da mostra. Por isso, explica Jacqueline, o percurso começa a partir da casa, localizada no Mondubim, onde o casal viveu e desenvolveu seus talentos, recebeu curadores, pesquisadores e palestrantes, e criou um ambiente plural artístico.

Partindo desse marco inicial, explica Jacqueline, a visitação pode se espalhar de forma mais fragmentada. Não há uma ordem cronológica fechada e também não existe necessidade de conhecer todos os espaços em um único dia. A pulverização do Salão de Abril nos cinco locais é uma herança do chamado Salão Sequestrado - que foi promovido por artistas cearenses em 2018, ano no qual o poder público não realizou o evento.

Ao longo da última semana, o Vida&Arte visitou os espaços que recebem obras do Salão de Abril. Atravessando os caminhos entre eles há uma jornada que mostra a textura das produções de artes visuais feitas no Estado. Participam artistas de estilos diversos - indo de Julio Lira e Simone Barreto até Isabella Monteiro e Júnior Pimenta. Na Casa do Barão de Camocim, duas obras se destacam no conjunto: as fotografias de Raisa Christina na obra Uma palavra que não conhecia e as fotografias de Louise Felix com Um registro de Louise caindo. Corajosas, as duas colocam seus corpos desnudos nas obras.

Já no Espaço Cegás de Cultura, explica Jacqueline Medeiros, estão postas obras que debatem a violência - como a videoarte Genealogia, de Rogê, e a instalação Arquipélago, de Thadeu Dias. A Sem Título Arte, por sua vez, abriga obra única do artista Eduardo Frota sobre revoltas populares acontecidas nos estados brasileiros. Cada um dos espaços teve uma data de abertura distinta - diferente do acontecido no Salão Sequestrado, quando as aberturas foram simultâneas. Hoje, a partir das 16 horas, o quinto e último espaço abre as portas para o público, o CCBNB, que terá, entre outras obras, a fotografia Monstras, de Lucas Dilacerda, e a pintura Projeto Para Fundar Um País, de Marina de Botas.

É no CCBNB também que ficará a instalação performática O que pode um casamento (gay)?, realização dos artistas Eduardo Bruno e Waldírio Castro, e os desenhos Cacimbas sem fundo e Inseguranças, de Leo Ferreira. No espaço que lhe foi reservado, explica Eduardo, foi montado um percurso que acompanha o enlace entre ele e Waldírio - transformando a vida privada em uma obra de arte pública. Um artigo publicado nas páginas do Vida&Arte, a certidão original de casamento, o convite para a cerimônia e recortes de ações realizadas às vésperas do "grande dia" integram a obra. É uma instalação feita a partir de resquícios, diz Eduardo Bruno. Leo Ferreira, artista nascido na Região do Cariri, com apenas 23 anos, estreia no Salão de Abril após algumas tentativas. Alheio ao anúncio e um pouco descrente da aprovação no evento, soube por uma amiga que havia sido aprovado - para expor e para transpor a distância entre o Cariri e a Capital. O jovem chega com seus cadernos de desenhos e conjuntos de esculturas.

Abertura do Salão de Abril no Minimuseu Firmeza
Abertura do Salão de Abril no Minimuseu Firmeza

Minimuseu Firmeza

Lar de Nice e Estrigas, o Minimuseu Firmeza foi escolhido como um dos polos do Salão de Abril 2019. Não são muitos os visitantes que se propõem atravessar a Cidade e ir até o Mondubim, bairro do equipamento. Quem vai, entretanto, não se arrepende. Além das quatro obras apresentadas no Salão, é possível apreciar o acervo artístico deixado pelos guardiões da casa. E, de quebra, visitar o baobá plantado no jardim. Paula Machado, historiadora que desenvolve projetos no Mimimuseu, diz que o salão trouxe um "novo ar" para o local.

Imagens do Salão de Abril na Casa do Barão de Camocim
Imagens do Salão de Abril na Casa do Barão de Camocim

Centro Cultural Casa do Barão de Camocim

É difícil não passar pelos espaços do Salão de Abril dispostos na Casa do Barão de Camocim sem ficar emocionado. A primeira parte da mostra tem peças produzidas por artistas contemporâneos que entram em diálogo com as criações de Nice, cearense que se dedicou ao bordado durante boa parte de sua jornada. São fotografias, peças interativas e vídeos que transportam o espectador. Já o segundo espaço, mais amplo, é um conjunto de obras que - à primeira vista, parecem não entrar em diálogo. 

Imagem do Salão de Abril na Sem Título Arte
Imagem do Salão de Abril na Sem Título Arte

Sem Título Arte

Revolver a Terra para Semear Heterotopias, obra pensada pelo artista cearense Eduardo Frota, ocupa a Sem Título Arte. A instalação, explica Jacqueline Medeiros, integrante da equipe de curadoria do Salão de Abril, coloca as revoltas populares acontecidas em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal no centro do debate artístico. A visitação fica aberta ao público até o dia 30 de junho, de segunda a sexta-feira, das 14h às 19 horas.

Imagem do Salão de Abril no Espaço Cegás Cultural
Imagem do Salão de Abril no Espaço Cegás Cultural

Espaço Cegás de Cultura

O diálogo sobre as violências dá o tom do Espaço Cegás de Cultura, que também recebe obras do Salão de Abril. Estão expostas a gravura Meninos e revólveres, de Gustavo Diógenes; a instalação Microscopia para Hamilton Monteiro, de Isabella Monteiro; a instalação Brazil ou Síndrome do pequeno poder, de Johta; a instalação Do Lugar Onde Falamos, de Júlio Lira; a fotografia Tem que sair, de Júnior Pimenta; a videoarte Genealogia, de Rogê; a instalação Pinturas para a Guerra, de Terroristas del Amor; a instalação Arquipélago, de Thadeu Dias; e a instalação Concerto Intermitente, de Waléria Américo.

Salão de Abril no CCBNB
Salão de Abril no CCBNB

Centro Cultural Banco do Nordeste

Último espaço a abrir exposição do Salão de Abril para o público - em evento que acontece hoje, a partir das 16 horas - o CCBNB terá desenhos, instalações, pinturas e videoartes. Integram o espaço obras como Garotos 2019, de Anderson Morais; Cacimbas sem fundo e Inseguranças, de Leo Ferreira (foto); e O que pode um casamento (gay)?, de Eduardo Bruno e Waldírio Castro. Localizado no Centro de Fortaleza, o CCBNB promete se firmar como um dos principais pontos de visitação do Salão.

Abertura do 70º Salão de Abril no CCBNB

Quando: sábado, 25 de maio

Horário: 16 horas

Onde: Centro Cultural Banco do Nordeste (Rua Conde d'Eu, 560)

Entrada gratuita

Outros espaços para visitação

Espaço Cegás de Cultura

Onde: Avenida Washington Soares, 6475

Horário: segunda a sexta-feira, das 13h às 17h

Minimuseu Firmeza

Onde: Via Férrea, 259 - Mondubim

Horário: de quinta-feira a sábado, das 8h às 17h

Sem Título Arte

Onde: Rua João Carvalho, 66 - Aldeota

Horário: de segunda a sexta-feira, das 14h às 19h

Centro Cultural Casa do Barão de Camocim

Onde: Rua General Sampaio, 1632 - Centro

Horário: de terça a sexta-feira, das 9h às 19h, sábado e domingo, das 10h às 17h

Visitações até 30 de junho

 

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