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O novo George do mesmo artista
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O novo George do mesmo artista

| Cannes | Oito anos após protagonizar O Artista, Jean Dujardin volta às telas com o tragicômico Le Daim, apresentado na Semana dos Realizadores do festival francês
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EM LE DAIM, o personaghem de Dujardin muda de personalidade a partir de uma jaqueta de camurça com franjas
 (Foto: divulgação)
Foto: divulgação EM LE DAIM, o personaghem de Dujardin muda de personalidade a partir de uma jaqueta de camurça com franjas

Ele não se mostrava tão convincente desde O Artista, filme pelo qual foi coroado Melhor Ator no Festival de Cannes em 2011: o francês Jean Dujardin expande ainda mais sua paleta tragicômica em Le Daim, de Quentin Dupieux, cujo humor excêntrico cai nele como uma luva.

Em Le Daim, apresentado na última quarta-feira na abertura da Quinzena dos Realizadores, Dujardin interpreta Georges. Esse nome tem peso em sua filmografia, uma vez que em O Artista ele se chamava George Valentin, e esta interpretação lhe valeu o Oscar de Melhor Ator em 2012.

Desta vez, o personagem interpretado pelo ator de 47 anos resolve do nada deixar sua cidade localizada numa montanha para comprar uma jaqueta de camurça com franjas por um preço exorbitante. Logo se vê possuído pelo espírito da vestimenta, que o leva a cruzar os limites de uma loucura assassina.

"Para este papel, eu me desliguei de tudo. Eu não me questionei se eu era mais forte que a proposta (do filme), se eu exagerei no lado psiquiátrico. Ao contrário: quanto mais eu voltava para o normal, mais as coisas se tornavam anormais", explicou Dujardin à AFP.

Entre um George e outro, passaram-se oito anos e cerca de 15 filmes, mas nenhuma obra ofereceu a Dujardin um papel tão singular.

No filme de Quentin Dupieux, cujo cinema é levemente surrealista e com uma boa dose de absurdo, Dujardin ainda exibe seu charme, mesmo sem fazer uso de seu sorriso largo e ainda escondido por uma barba grisalha.

Com o novo Georges, Dujardin tem a oportunidade de trabalhar com um registro cômico diferente, distante do humor de Agente 117 - Uma Aventura no Cairo, Brice de Nice e Os infiéis, através de uma interioridade que provoca o riso fazendo o mínimo possível, ante a estranheza perturbadora e a violência contida de seu personagem.

"Dá para sentir a dualidade do meu personagem porque estamos em um filme do Quentin. Tenho a sensação de que essa patologia, esse circuito fechado, essa solidão, eu trouxe de Brice de Nice, por exemplo", comentou. "Jean conhece bem seu metiê. Ele busca excitação, e tem medo da zona de conforto", afirma Quentin.

A atriz Adèle Haenel, por sua vez, afirma que o ator a ajudou a ver que seu personagem secundário, que, em princípio, ela não achava muito profundo, poderia ter importância nos acontecimentos no filme. "Sua proposta como ator é completa, ele é extremamente sincero, e há algo de infantil na seriedade com que ele aborda o papel, ao ponto que ainda hoje usa camurça", destaca.

"É um tipo de doença", responde Dujardin, a mais séria do mundo, reproduzindo a frase que ele fala várias vezes no filme. (AFP)

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