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Ilustre desconhecido: a produção de José de Alencar para além do romance
Vida & Arte

Ilustre desconhecido: a produção de José de Alencar para além do romance

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O lugar ocupado por José de Alencar - o de primeiro grande romancista de nossa literatura -, por intermédio de obras como O guarani e Iracema, não lhe assegurou, como era de se esperar, o posto de evidência que lhe é devido por direito; pelo contrário, apesar da posteridade, Alencar pode ser considerado, ainda hoje, como um dos nossos mais ilustres desconhecidos.

Essa contradição se explica em razão de alguns fatores, que parecem derivar de uma mesma e única fonte: a vasta produção intelectual do autor cearense. Vasta e muitíssimo variada, diga-se de passagem, denunciando aí inúmeros perfis: não apenas o do romancista, mas o do cronista, do dramaturgo, do jurisconsulto, do político, do etnólogo, do filósofo, entre outros.

Mesmo diante de tal quadro, foi à personalidade literária de José de Alencar que se dispensou mais atenção, sombreando assim os demais gêneros, mas mostrando com esses uma preocupação comum e central: a de pensar o Brasil. De fato, os meios por que Alencar se expressou (o jornal, o palco, a tribuna, o livro) e suas formas (crônica, teatro, discurso, romance, ensaio) sempre tiveram por timbre um interesse amplo pelo Brasil. Daí que podemos dizer aqui, sem qualquer exagero: José de Alencar foi o primeiro a fazer de seu país o objeto de um pensamento profundamente descritivo, crítico e reflexivo, no tempo e no espaço. Isso faz do autor de O guarani uma das referências fundamentais quando se tem por assunto a vida nacional.

E como a literatura desempenharia a função central, isto é, a de ligar o Brasil por inteiro - geográfica, histórica e culturalmente -, tal qual revelado no prefácio do romance alencarino Sonhos d'ouro, parece ter sido encarada como uma peça autônoma, sem qualquer relação com as outras produções que o engenho de José de Alencar trouxe a lume. Eis uma hipótese plausível. Todavia, o fato de o literato Alencar sobressair ao cronista, ao dramaturgo, ao político etc. se deve muito mais ao desinteresse dos estudiosos pelas realizações que não fossem as do romancista, o que constitui, por si só, um grande equívoco.

As últimas pesquisas realizadas a partir de manuscritos autógrafos e inéditos vêm mostrar justamente o contrário: a necessidade de fazer falar os alencares silenciados e dispersos, agrupando em torno de um nome os autores que ensinaram a pensar o Brasil.

 

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