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Plumas, paetês e glamour
Vida & Arte

Plumas, paetês e glamour

| LIVRO | Contando a trajetória dos grandes destaques do Carnaval carioca, "Vestidos para Brilhar", do cearense João Gustavo Melo, traz à tona personagens fundamentais - porém, pouco visíveis - da história dessas agremiações
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Formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), João Gustavo Melo, desde cedo, teve um apreço especial pela folia carioca. "Desde os 11 anos, passei a acompanhar o Carnaval do Rio pela TV. Isso foi em 1989, ou seja, há 30 anos. Quando me formei, vim trabalhar no Rio como assessor de imprensa e passei a acompanhar de perto a festa; isso foi no ano 2000. De 1998 (antes mesmo de deixar Fortaleza) a 2017, fiz parte da Diretoria Cultural do Salgueiro, cargo que me abriu muitas portas e me deu grandes amizades", relembra o cearense, que atualmente dá apoio consultivo para o G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti no enredo sobre o Bode Ioiô (O Salvador da Pátria), do carnavalesco Jack Vasconcelos.

 

Conhecendo mais a fundo os muitos segmentos que compõem uma agremiação, João Gustavo - que já havia participado da feitura de As Matriarcas da Avenida: quatro grandes escolas que revolucionaram o maior show da Terra (Ed. NovaTerra, 2016) - chega agora ao mercado com Vestidos Para Brilhar: uma epopeia dos grandes destaques do Carnaval carioca (Ed. Rico, 2018). Fruto de sua pesquisa de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o livro volta o olhar não para a bateria e seus ritmistas, nem mesmo para as belas musas ou até a tradicional e respeitada ala da Velha Guarda.

 

O foco da pesquisa reside em um personagem bem específico da avenida. "Na universidade, a gente diz que ninguém presta atenção em um relógio quando ele funciona normalmente. Quando o relógio dá defeito é que a gente passa a querer saber como ele funciona por dentro. Foi isso o que aconteceu em relação aos destaques. Observei uma diminuição em relação ao número de pessoas desse segmento. Nos anos 1980, chegavam a ser 40 por escola. Hoje são, no máximo, 10. Essa diminuição ocorre por muitos fatores, mas muitos reclamam da falta de apoio e de visibilidade no próprio universo do Carnaval", explica.

 

Vestidos para Brilhar abrange desde o início das escolas de samba nos anos 1930/1940 até os dias atuais. "Mas também passeia por manifestações da Antiguidade, como os triunfos romanos, em que generais eram carregados em espécies de elementos alegóricos nos retornos de grandes guerras. Eram laureados como heróis. Essa correspondência com os desfiles das escolas de samba revela uma visualidade ancestral que as manifestações populares acabaram adotando. No período renascentista, as entradas régias e festas nas cortes europeias também eram grandes espetáculos que elevavam uma figura importante (geralmente, o rei) a uma posição de destaque", complementa.

 

Dentro desse rico universo de brilhos, penas, lantejoulas, paetês e glamour, a presença de Clóvis Bornay (1916-2005) torna-se fundamental. "Não cheguei a conhecê-lo infelizmente, mas ele é bastante citado no livro. Bornay fez parte de um grupo que surgiu dos concursos de fantasias, especialmente o que ocorria no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi para as escolas de samba nos anos 1960, foi carnavalesco do Salgueiro, em 1966, e conquistou o título de 1970 com a Portela. É uma referência no mundo das fantasias de luxo. Desfilou por quase cinco décadas, até sua morte", elucida o autor, que dá detalhes ainda sobre a feitura dos trajes, cercada de grandes cifras monetárias.

 

Ele conta que as fantasias são totalmente bancadas pelos próprios destaques, que recebem o figurino elaborado pelo carnavalesco e arcam com todo o custo da confecção. "Os trajes custam de R$ 20 mil a R$ 100 mil, dependendo dos materiais e da mão de obra do costureiro que executa a fantasia", esmiuça. "É um investimento alto para muito pouco tempo de desfile", afirma João Gustavo. Mas é por meio dos destaques, segundo ele, que se consegue traçar um panorama sobre a relação entre a cidade do Rio de Janeiro e o Carnaval. "O início da ligação nos anos 1960 entre os desfilantes dos concursos e os destaques das escolas de samba revela como mundos aparentemente diferentes, como o das passarelas dos concursos e o da avenida dos desfiles, podem conviver", complementa.

 

Com galeria do fotógrafo Wigder Frota e orelha escrita pelo jornalista e escritor Fábio Fabato, Vestidos Para Brilhar é o primeiro livro a integrar o selo Carnavalize, pertencente à Editora Rico. De projetos futuros, João Gustavo Melo já tem o segundo tema em andamento. "Estou trabalhando em um livro de crônicas sobre Carnaval com o Fábio Fabato. Além disso, estou tocando a pesquisa de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Artes na Uerj, também sob a orientação do professor Felipe Ferreira, sobre o processo da vinda de profissionais do Festival Folclórico de Parintins (AM) para trabalhar no Carnaval carioca. A previsão de conclusão é em 2021", adianta o jornalista.

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Livro Vestidos Para Brilhar: uma epopeia dos grandes destaques do Carnaval carioca

 

De João Gustavo Melo

106 páginas (com galeria de fotos de Wigder Frota)

Selo Carnavalize (Ed. Rico)

Preço: R$ 39,90 (frete grátis)

Vendas somente pelo site: https://bit.ly/2CmOU1m

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