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Ninho das palavras
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Ninho das palavras

| Espaço público | Fechada desde 2014 para reforma, Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel chega aos 152 anos com o desafio de se reconectar à Cidade
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Da infindável, mítica e até metafísica Biblioteca de Babel - fruto fantástico dos escritos do ensaísta argentino Jorge Luis Borges no livro Ficciones (1944) - à Biblioteca Comunitária Livro Livre Curió - espaço organizado pelo poeta e produtor cultural cearense Talles Azigon na sala de sua casa -, as bibliotecas despertaram fascínio, curiosidade e estranhamento ao longo da história. Com 152 anos de existência e gerida atualmente pela Secretaria de Cultura do Estado (Secult), a Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel (BPGMP) é o equipamento cultural mais antigo do Ceará e guarda, em suas sólidas paredes, narrativas daqui e do além-mar. Ao longo de seus quase 30 anos, o Vida&Arte acompanha e documenta os períodos de glória e declínio do prédio público.

 

Criada pelo então presidente da Província do Ceará João de Sousa Melo e Alvim, a história da biblioteca pública começou ainda em 1867. À época denominada Biblioteca Provincial, a edificação contava com um modesto acervo de 1.700 livros. Somente em 1975 o equipamento foi transferido para seu atual endereço na Avenida Castelo Branco (Leste- Oeste), número 255 - ou, na referência mais conhecida nos últimos 20 anos, ao lado do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Hoje, a Biblioteca Pública Menezes Pimentel guarda mais de 132 mil livros e periódicos distribuídos em cinco pavimentos. O acesso do público ao acervo, entretanto, está restrito desde fevereiro de 2014: fechada por questões estruturais, a BPGMP enfrenta um moroso processo de reforma de lá para cá.

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Erguido há mais quatro décadas, o prédio no qual funciona a Menezes Pimentel exige reparos há tempos. Em 2000, o V&A registrou as modificações na rede elétrica do equipamento iniciadas ainda em 1999. Já no final de 2014, o caderno apresentou aos leitores uma entrevista com ex-secretário de Cultura Francisco Pinheiro, retomando a necessidade de obras urgentes como a do projeto hidráulico da biblioteca. Nas delongas do processo, cerca de 40% do acervo da BPGMP foi transferido para o Espaço Estação, no Centro da Capital.

 

A previsão inicial era que a reforma da Biblioteca Pública fosse realizada em 16 meses, mas os atrasos se acumularam. Em entrevista ao Vida&Arte no final do ano passado, o secretário de Cultura Fabiano Piúba - que continua à frente da pasta na segunda gestão de Camilo Santana (PT) - redefiniu o prazo de entrega do equipamento para 2019. "A Biblioteca tem causado um certo prejuízo, sobretudo para os usuários. A reforma física foi entregue pela empresa em 2017 ainda, com todo o reforço estrutural que a biblioteca precisava, mas não havia um projeto de modernização de sistemas, de acervo, de mobiliário, de equipamento ou de arquitetura interior. Nós iríamos inaugurar uma nova velha biblioteca, mas ela não traduzia o conceito de biblioteca que a gente defende. O mobiliário será convidativo, interativo. Foi uma aposta", argumentou.

 

Ainda de acordo com o titular da Secult, o projeto de integração da Menezes Pimentel com o Dragão do Mar será retomado. Diretora da BPGMP na gestão passada, a bibliotecária Enide Vidal vê benefícios no novo formato e acredita que os frequentadores do centro cultural podem se interessar em conhecer e participar de programações conjuntas entre os equipamentos. "A Biblioteca Pública fechou, mas continuou atendendo pesquisadores com hora marcada - os periódicos e as obras raras continuaram funcionando lá. Nossa ideia, agora, é fazer com que as pessoas tenham a biblioteca não só como um local de leitura, mas também de encontro", pontua.

 

Coordenadora do Sistema Estadual de Bibliotecas do Ceará, Maria Aparecida de Lavor defende a função da biblioteca como guardiã da memória de um estado. "Precisamos de políticas culturais mais acentuadas, mas infelizmente estamos perdendo projetos. A extinção do Ministério da Cultura pelo atual presidente afeta diretamente as bibliotecas", lamenta a gestora. Nesse contexto de escassez de recursos e de público interessado, das 192 bibliotecas públicas cearenses registradas, as dos municípios de Acarape, Baturité, Capistrano e Jardim já foram foram fechadas. A urgência, agora, é democratizar esses espaços para reconectá-los às cidades.

 

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