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A vida (quase) como ela é
Vida & Arte

A vida (quase) como ela é

|dramas humanos|Dois filmes disponíveis na Netflix se destacam pela abordagem sutil de problemas cotidianos - ainda que de pontos de vista privilegiados
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São muitas as características que aproximam os longas Gente de Bem e Mais Uma Chance um do outro: dirigidos e escritos por duas realizadoras do cinema independente, lançados no mesmo ano e obras originais Netflix.

 

As histórias se entrecruzam, ainda, por tratarem de maneira sutil de questões e problemas bastante humanas, cotidianas e identificáveis - mesmo que seus protagonistas sejam tipos bem sucedidos: respectivamente, um homem do mercado financeiro que largou trabalho e família para buscar a "felicidade" e um casal descolado de artistas.

 

Tendo estreado entre setembro e outubro do ano passado, os filmes podem se perder em meio ao vultuoso catálogo da plataforma de streaming, eles merecem atenção do espectador.

 

Gente de Bem

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Dirigido e escrito por Nicole Holofcener baseado em romance de Ted Thompson, o filme é protagonizado por Anders, um homem bem sucedido que, em busca de felicidade, abandona o trabalho no mercado financeiro e a esposa. Nesse processo, se aproxima de um adolescente viciado em drogas, filho de um casal de amigos. Assim como os trabalhos anteriores da diretora - entre os quais se destacam Amigas Com Dinheiro (2006) e À Procura do Amor (2013) -, Gente de Bem se constrói em tom de comédia dramática, entregando uma trama agridoce. O título original, "a terra dos hábitos estáveis" (The Land of Steady Habits), dá conta do vazio da repetição que acomete o protagonista - preenchido pela disrupção que representa Charlie, o jovem viciado. Já o nome em português, por sua vez, consegue resumir o teor das personagens: pessoas boas, que justamente por serem humanas metem os pés pelas mãos, indo contra qualquer noção de perfeição ou imperfeição. O roteiro se interessa menos por grandes tramas e decisões narrativas do que por pequenos gestos, relações e reações. As personagens, por menores e menos contextualizadas que sejam, conseguem deixar marcas e ajudam a construir a atmosfera do filme, ao mesmo tempo tão própria e tão universal.

 

Mais Uma Chance

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A história por trás de Mais Uma Chance é curiosa. Em 2007, Tamara Jenkins lançou o filme A Família Savage, obra independente que fez sucesso e recebeu duas indicações ao Oscar, incluindo Melhor Roteiro Original. Apesar de indicada ao maior prêmio da indústria, a cineasta só conseguiu lançar o filme seguinte neste ano, através da Netflix. Com uma trama bem pessoal, baseada em fatos da vida dela e do marido, o longa acompanha a saga de um casal de artistas já na casa dos 40 anos (interpretado por Kathryn Hahn e Paul Giamatti) no processo de tentar engravidar. Com mais de duas horas, o filme esmiúça peculiaridades e afetos bastante íntimos dessa jornada pela qual a própria Tamara passou - apesar disso, o longa não é exatamente autobiográfico. A partir do olhar para a gravidez, Mais Uma Chance diz respeito também sobre envelhecimento, família e intimidade. Assim como Gente de Bem, a obra se debruça nos detalhes das relações. Já na direção, a fuga da obviedade é bem vinda e se aposta em caminhos diferentes como pequenas experimentações e ironias visuais. O casal protagonista merece um destaque à parte: enquanto Paul Giamatti traz humanidade e honestidade a um papel que poderia cair em clichês, Kathryn Hahn comprova em Mais Uma Chance - juntamente de outros trabalhos de destaque como a série Transparent, por exemplo - o equilíbrio delicado que traz em si entre o humor
e o drama.

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