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Paixão não traduzida
Vida & Arte

Paixão não traduzida

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O potencial de um filme como Carvana, na teoria, seria enorme. A proposta do documentário de Lulu Corrêa é se debruçar nas trajetórias de vida e obra do ator, diretor e roteirista Hugo Carvana, falecido em 2014 após anos de luta contra o câncer. A carreira do artista, é possível observar, fala muito da história do próprio cinema brasileiro, indo da participação em obras de diretores do Cinema Novo à transformação em diretor, nos anos 1970, passando pelas dificuldades de se fazer cinema na era Collor e chegando à força da Globo Filmes nos anos 2000.

 

Participando de filmes como Os Fuzis (1964), de Ruy Guerra; A Falecida (1965), de Leon Hirszman; O Anjo Nasceu (1969), de Júlio Bressane; e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969), de Glauber Rocha, além de ter dirigido, escrito e protagonizado longas como Vai Trabalhar, Vagabundo! (1973) e Bar Esperança (1983), Carvana teve destaque nas primeiras décadas da carreira no cinema, apesar de ter ficado nacionalmente conhecido e popular por suas participações em novelas e séries televisivas. O documentário, no entanto, mostra a grande paixão que nutria pelos filmes, inclusive até o final da vida - não por acaso, estava envolvido em uma nova produção antes de morrer, como afirmou à época sua viúva, a jornalista Martha Alencar.

 

O documentário consegue trazer boas histórias e ideias sobre cinema, mas somente por mérito da rica história do retratado e seu modo de contá-las - como exemplo, Carvana é bastante honesto sobre os problemas financeiros e os contextos políticos de diversas produções nas quais esteve envolvido. O documentário em si, porém, não dá conta em sua forma desse afeto e relação que o personagem tem pelo cinema, apostando em um modo de contar que, majoritariamente, é fraco. A diretora foi parceira profissional do retratado ao longo dos anos, fazendo do filme uma produção inegavelmente de afeto e reverência. Talvez por isso, a obra acabe optando por se manter no lugar comum, evitando qualquer experimentação de linguagem. Um exemplo claro desse "pé atrás" são os momentos que o longa "perde" mostrando cenas extensas de filmes de Carvana - algumas vezes há justificativa, mas em outras (a maioria) as sequências pouco comunicam e menos ainda adicionam informações aprofundadas que ajudem no desvendamento da trajetória do protagonista. São pequenas fraquezas que, ao longo de quase duas horas, tiram qualquer força da obra.

 

Nos últimos anos, foram muitos os filmes que se debruçaram nas figuras de atores importantes do Brasil e, como exemplo passível de comparação, vale lembrar de Pitanga, documentário de Beto Brant e Camila Pitanga sobre o ator Antônio Pitanga - que, por coincidência, também aparece em Carvana, ainda que numa presença descontextualizada, breve e silenciosa. O filme sobre Pitanga é um exemplar que funciona bem melhor nos níveis do afeto, do registro histórico e da forma de documentar. O filme, dirigido pela filha do ator, abre espaço para diversos encontros do personagem-título com amigos e colegas de profissão, abrindo-se, assim, para mais apostas narrativas do que Carvana o faz.

 

Carvana 

 

Em cartaz no Cinema do Dragão

 

Onde: rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema

Quanto: R$ 14 (inteira) 

Mais infos: www.dragaodomar.org.br/programacao-cinema 

 

 

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