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Os voos híbridos de Aline Bei
Vida & Arte

Os voos híbridos de Aline Bei

| cartola | Vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura, a escritora Aline Bei provoca o leitor com a narrativa poética de O Peso do Pássaro Morto
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Aline Bei causou um pequeno rebuliço no mercado editorial com O Peso do Pássaro Morto, livro de estreia da autora paulista que acompanha uma personagem dos oito aos cinquenta e dois anos. A história, além de impactar por ter uma narrativa bem construída e intrigante, é totalmente escrita em ritmo poético. Bei e seu livros são híbridos, transitando entre o romance, a poesia e as memórias. "Escolhi escrever a história de uma mulher sem nome em primeira pessoa justamente para tentar colocar o leitor em situação, para que ele pudesse de alguma forma sentir no corpo o cotidiano da personagem. 

 

Mas claro que nem sempre isso acontece, a experiência de leitura é muito  pessoal", diz a autora, em entrevista ao O POVO, quando indagada sobre a perspectiva da personagem ser qualquer uma de nós. Afinal, qual pessoa não ostenta perdas e mais perdas ao longo da vida? Ao longo do livro, Bei mostra como essas situações moldam e emolduram a personagem. O livro, lançado pela Noz, foi vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura. 

 

"Nosso corpo chega antes, pra mim esse é o maior problema. Enfrento como posso, aprendo muito no convívio com outras escritoras e artistas que admiro", explica a escritora quando fala sobre o fato de ser uma mulher jovem que está no mercado editorial. Aline é um sucesso de vendas e de estratégia de negócio. Vendeu alguns milhares de livros de mão em mão, no boca a boca, oferecendo O Peso Do Pássaro Morto para possíveis leitores na internet. "Realmente ter um livro mudou a minha vida. digo inclusive a minha rotina, já que eu mesma vendo, empacoto, envio pelos correios. E já escrevia há bastante tempo, mas publicar me legitimou como escritora", diz a autora que foi incentivada a realizar a publicação pelo escritor pernambucano Marcelino Freire. Aline participava de uma oficina de escrita criativa e chegou a ganhar um concurso literário promovido pelo autor de Contos Negreiros. "Foi muito importante. Com o Marcelino percebi que estava na hora de publicar, algo que antes da oficina eu super valorizava", explica Aline Bei.

 

"Chega uma hora que nossos escritos simplesmente precisam desembocar em um livro para que possamos seguir evoluindo e lapidando nossa voz narrativa", explica a escritora, comparando uma obra literária a uma peça de teatro que precisa entrar em cartaz. E essa estreia de Aline foi, no mínimo, reveladora da escritora que teremos nos próximos anos. No último mês, ela foi contemplada com o Prêmio São Paulo de Literatura na categoria autora estreante com menos de 40 anos. A premiação lhe conferiu ainda mais visibilidade e atiçou a curiosidade de novos leitores que querem entender, afinal, qual é o peso do pássaro morto.

 

A narrativa criada por Aline em O Peso do Pássaro Morto é curiosa. Utilizando recursos gráficos e uma linguagem poética para escoar a narrativa, ela construiu um texto cheio de nuances e hibridismo. A história, que acompanha uma mulher marcada por diversas perdas ao longo da vida - dos oito aos cinquenta e dois anos -, entretanto, tem uma fluência impressionante. E Aline sustenta seu potencial poético do início ao fim. A personagem sofre tantas perdas quanto uma mulher é capaz de sofrer. E o cerne do livro é justamente esse: perder, perder e perder. Mesmo quando a personagem recebe algo, ela precisa abrir mão de outra coisa - um jogo honesto com o leitor, pois, afinal, a vida real não é repleta de perdas e ganhos atrelados?

 

Aline Bei

 

Aline Bei nasceu em 1987 e é natural de São Paulo. É formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em Artes Cênicas pelo Teatro Escola Célia-Helena. Estudou escrita criativa em oficinas promovidas pelo escritor Marcelino Freire. O Peso do Pássaro Morto, escrito entre 2016 e 2017, é seu livro de estreia e foi contemplado no Prêmio São Paulo de Literatura na categoria autor estreante com menos de 40 anos. Antes disso, ela ganhou o Prêmio Toca, promovido por Marcelino, que lhe permitiu publicar pelas editoras Nós e Edith. (Isabel Costa)

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Referências

 

Entre as referências de Aline Bei para a produção de O Peso do Pássaro Morto está o livro Aos 7 e aos 40, do escritor brasileiro João Anzanello Carrascoza. O poema One Art, de Elizabeth Bishop, também serviu para inspiração, conta Bei. "Ainda que eu tenha percebido a relação depois de ter escrito o Pássaro", explica a escritora.

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