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O respiro do erro
Vida & Arte

O respiro do erro

| dia do palhaço | Diversidade nas abordagens e na formação marcam a palhaçaria de Fortaleza
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O Palhaço Pimenta é José de Abreu, palhaço desde a década de 1960, que segue no mundo circense até hoje e, em 2013, foi destacado como Mestre da Cultura pela Secretaria da Cultura do Ceará. "Não foi por influência, não. Quando faltou alguém lá no circo, eu entrei. Sempre fui mais popular, sabe? Um palhaço de pintar a cara toda", lembra Pimenta, que começou no famoso Grande Circo Uiara. Já o coletivo Cio das 5, formado por Juliana Brasil, Adalgisa Nara, Rebeca Azevedo, Brisa Damasceno, Nicole Saboya, Rebeca Marinho,Thays Layane, Laisa Forte e Brena Karla Marques, surgiu na Capital em maio deste ano propondo reflexão sobre a palhaçaria feminina.

[SAIBAMAIS] 

"Somos nove mulheres, muito diferentes. O que queremos é colocar em pauta a forma de ser mulher que nos é imposta. Para isso, usamos a palhaçaria como ferramenta de comunicação, expressão e sensibilização", explica, em conjunto, o coletivo. "Não existia lugar para uma figura feminina na palhaçaria, (mas) hoje nos identificamos como palhaças e isso já é uma grande mudança. Não é novo, mas está se tornando mais comum", apontam as palhaças, não sem antes deixar o bem-humorado e certeiro recado: "é importante beber de todos os conhecimentos possíveis, incluindo dança, música, cinema, teatro, mímica, mágica, bufonaria, história, psicologia, coquetelaria, direito e, claro, biologia molecular!".

 

O grupo As 10 Graças é outro coletivo de palhaçaria de Fortaleza que oferta uma abordagem mais distante da tradicional - e que, ainda sim, tem em Pimenta, por exemplo, referência central. "Ele foge da estética do grupo, mas é um mestre porque consegue carregar o estado que a palhaçaria carrega em si", explica Alysson Lemos, o palhaço Sandoval. O arquétipo trabalhado no grupo é o do Bufão, que "opera através de outros formatos estéticos, é mais grotesco, com uma pegada política muito marcada", ensina. Trazendo a palhaçaria mais para a vida em si do que uma ideia de personagem, As 10 Graças encontram na observação de rua uma formação importante. "Temos grandes artistas de rua na Cidade. A Praça do Ferreira é uma escola", avança.

 

"O palhaço de circo, de teatro, o da rua, estão juntos em comunicação. Têm objetivos específicos, mas dividem uma mesma preocupação, que não é simplesmente fazer rir, mas chamar a atenção das pessoas para aquilo que é tão óbvio mas a gente não para para pensar. É o lugar do ridículo, do risível. Aquilo que nós queremos esconder o palhaço propositalmente quer mostrar", aproxima a professora Júlia Sarmento. "Se a gente for pensar o palhaço como um estado, ele sempre existiu em qualquer sociedade. Sempre vai ter aquela figura que vem para quebrar as convenções, trazer o riso, pensar de uma forma diferente. O palhaço vem para quebrar a virtuose, dar o respiro do erro", dialoga Alysson. (João Gabriel Tréz)

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