Entender o futuro sem olhar o passado é quase impossível. O que vem a ser está intrinsecamente ligado à história. A moda é este reflexo. Ela é comportamento, é cultura, é expressão - linguagem capaz de definir, distorcer, incluir.

Durante um ano, a moda, no corpo e no discurso, transforma-se. Acompanha uma roda gigante, uma roda de redescobertas, trazendo o passado à tona, porém sempre a partir de um novo olhar. Reinventa-se. Indaga e se indaga, quantas vezes necessário, sem vergonha, bebendo de coragem. Assim promove o novo, diante de uma perspectiva - é para ser - geralmente otimista, como se quer acreditar e ver de fato acontecer.

Inclusão. Está aí. É uma boa palavra, que leva a memórias que mudaram a mensagem como se entende de moda - vide sua falha no quesito representatividade, hoje, intolerável. Não é preciso ser da área fashion para se indignar com a sua falta, na moda - representatividade deve ser um alicerce às marcas, independente do segmento e modelo de negócio.

Mas a moda também é bondosa. Ela permite caracterizar desejos, individuais e coletivos. Atende ao que é urgente: ser você mesmo. No atual contexto, por mais verdade e transparência na moda, o design de produto deve referenciar, mais do que nunca, a isso. Não envolve só estética, mas a informação do comportamento encarada à sério, permitindo escolhas, além de visões mais sustentáveis.

Prepare-se para uma rota, para alguns, talvez, aleatória, mas que faz todo o sentido se a observarmos como um grande painel onde cada tendência, novidade apresentada em 2018 fosse parte de um conectivo que leva ao outro. As influências para o próximo ano, não duvide, é o espelho do que vivemos hoje. Relembre!

Living Coral

Reserve boas sensações para 2019. Em entrevista ao O POVO, representante da Pantone no Brasil, Blanca Lliahnne, ajuda a decifrá-la. "Ela representa um símbolo da nossa necessidade nata por ter positividade, alegria, vida. Sua relação com os mares, é tão forte quanto com a sustentabilidade. É uma cor de resort, para você usar no seu melhor", diz.

90's

O come back dos sneakers não está sozinho. A febre do tênis estilo espacial - grandão - traz o mood completo dos anos 1990 à tona. T-shirts da turma jovem e descolada. Em alta, o neon deve continuar aceso... O print de cobra reveste a cena. Mais no @off____white - para ficar de olho!

Diálogo aberto
Foi neste ano que o Fashion Revolution disponibilizou o 1º Índice de Transparência da Moda Brasil, elaborado pelo Fashion Revolution CIC e Instituto Fashion Revolution Brasil. O acesso ao conteúdo online permite uma análise de 20 grandes marcas e varejistas do mercado brasileiro, classificadas de acordo com a quantidade de informações disponibilizadas sobre suas políticas, práticas e impactos sociais e ambientais. André Carvalhal lançou Viva O Fim (Companhia das Letras), 3º livro de sua carreira.

Natureza além
O foco está na sustentabilidade. Impulsiona marcas, forma público. A @useamago, da foto, é da designer Juliana Oliveira. "Desenvolvo as peças a partir de madeira de demolição ou reaproveitamento de madeiras diversas que seriam jogadas fora. Procuro sempre trazer uma conexão com os sentidos da natureza por procurar buscar a sustentabilidade nos meus processos", conta a cearense.

Pegada jeans

Que o jeans atravessa gerações, isso não é mais novidade. Agora, ele é total eco. Em 2018, a C&A foi a primeira varejista de moda a oferecer um jeans com a Certificação Cradle to Cradle™ nível Gold. O que isso significa? Durante o processo, apenas energias renováveis e altos padrões sociais foram aplicados, resultando em um produto que é projetado para ter outros usos. O primeiro Guia sobre Desenvolvimento de Denim com Certificação Cradle to Cradle™ do mundo, com as lições aprendidas pela rede, foi publicado no site da Fashion for Good juntamente com o lançamento do produto na Europa, em agosto. A boa é reinventar-se para um propósito verde. Atente-se ao que consume também.

É instagramável
A foto viralizou na Internet. É da campanha em comemoração aos 10 anos de carreira da Beckham estilista. Bem humorada! Com a cultura do Instagram - plataforma que em 2018 chegou ao número de um bilhão de utilizadores -, a moda direciona seu conceito cada vez mais para cliques/cenários ditos como "instagramáveis". Por mais leituras de moda, de preferência, criativas o tanto que pode ser.

Personalização

...Está na forma como o tie dye (manual/feito à mão) ganhou espaço nos desfiles (na foto, da estilista Stella McCartney), na forma como a Vetements - espie já no Instagram - consegue vender e comunicar sobre moda, aliás, sobre comportamento. Atenção na roupa como segunda pele. O jeans patchwork também.

Do Ceará, com orgulho

O ano de 2018 veio junto com o talento máximo dos cearenses pelo mundo. A participação de designers e modelos na cena fashion internacional ajudou a projetar a imagem do Ceará como terra do povo da moda. Aira Ferreira (foto acima), Sarah Berger, e um time de apostas, incluindo Izabella Coutinho, que fez sua estreia na São Paulo Fashion Week (SPFW), assim como Silvia Viana, brilham em campanhas e desfiles - as duas primeiras, com destaque fora do País. Em setembro, a designer cearense de joias Jussara Regás foi uma das participantes cearenses do MadridJoy, realizado em Madri, na Espanha. Recentemente, Gisela Franck teve seu momento no Brazil Fashion Forum, com peças expostas na mostra em Miami Beach.

Tecnologias vestíveis

Trazendo uma reflexão sobre a moda do futuro, o trabalho do designer Kunihiko Morinaga, fundador da marca japonesa Anrealage, continua com visitação aberta ao público, até o dia 6 de janeiro, no segundo andar do Japan House, em São Paulo. O estilista se baseia nas contínuas inovações da indústria e na qualidade técnica para desenvolver peças que fogem da silhueta padrão. De olho!

LÚDICO
O personagem mais famoso da Disney conseguiu ditar a moda antes mesmo de 2018 dar o seu "alô" prosseguindo, até o final, com a invasão #Mickey90 em araras, campanhas e sites de compras. De linha assinada pela Água de Coco por Liana Thomaz na SPFW a sandália Havaianas, graças ao ícone, a moda ficou mais divertida durante o ano. Que em 2019, continue!

Voz sustentável

A sustentabilidade na moda vem alcançando outras parcelas da indústria fashionista. De um tempo para cá, a moda internacional - com todo seu poder de influência global - parece dar mais ouvido - e chance - a pensar - e produzir - diferente, sem causar impacto, principalmente à natureza. Antes da semana de moda de Londres startar, uma notícia agradou geral: pela primeira vez, o uso de pele foi abolido nos desfiles do evento. Burberry, Versace, Gucci, entre outras, agora se vêem no futuro... Recentemente, foi a Chanel que anunciou o fim do material em suas coleções. Um reflexo disso, no Brasil, acompanha a semana de moda dedica só a ilustrar o que é desenvolvido de forma sustentável, a Brasil Eco Fashion Week, publicada nestas páginas.

Novo oxigênio

Desde que a Savage x Fenty - marca de lingerie assinada por Rihanna (foto) - lançou luz para uma moda íntima libertária, com direito a estreia, já de cara, na fashion week de Nova York, mostrando como incluir e valorizar biotipos diversos na passarela, a moda no geral parece ter tomado outro fôlego. O mix entre veganismo e futuro, pensado para construir o conceito da Savage x Fenty, é um convite à indústria da moda a refletir como tem encarado seu próprio fazer - algo que, talvez, ainda não seja da compreensão da famosa Victoria's Secret. Ao contrário da de RiRi, a grife de lingerie vem perdendo adeptos por não saber conduzir um discurso mais inclusivo, principalmente em seu fashion show anual que, em resposta, recebeu protesto da @nunude_official em uma de suas lojas.

Atletismo
Se tem um item do vestuário que surgiu feito avalanche, sem contar o uso livre - e consciente - das eco bags - as de feira são ótima opção, ressignificam o ordinário em extraordinário e aí que está a graça -, foi a bermuda ciclista misturada a um estilo casual ou total esportivo. A tendência deve continuar. Na foto, na praia chic da Chanel (verão 2019) - visão atlética à caminho

Reconectar

Quando a ordem das coisas é quebrada, tudo parece ir ao espaço. Menos para a Gucci. A grife é vanguardista, mexendo com anseios despertados hoje. Em um dos seus desfiles mais impactantes, em 2018, Alessandro Michele, da Gucci, projetou cabeças literalmente nas mãos. A reconfiguração dos indivíduos em busca por identidade. Vamos ver mais destes valores, perfumados de passado, com cara de metamorfose.