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Hollywood é mexicana?
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Hollywood é mexicana?

| roma | Novo filme de Alfonso Cuarón vira favoritíssimo ao Oscar e pode dar mais estatuetas para um poderoso trio de cineastas latino-americanos
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Desde 2013, realizadores mexicanos venceram cinco das últimas seis disputas de melhor diretor no Oscar. E a tendência é que a sequência se amplie. Roma, novo longa de Alfonso Cuarón, chega amanhã como obra exclusiva da Netflix e tem enormes chances de dar a terceira - e talvez até a quarta - estatueta para o diretor de E Sua Mãe Também (2001) e Filhos da Esperança (2006).

 

A tal sequência mexicana começou justo com Cuarón, pelo drama espacial Gravidade (2013). O Oscar de então serviu para sanar a injustiça de 2007, quando o mexicano perdeu a indicação para Tony Gilroy, Julian Schnabel, Paul Thomas Anderson, Jason Reitman e os vencedores, os irmãos Coen - naquela que, diga-se, é uma das seleções de melhor diretor mais fortes do Oscar nos últimos 30 anos. Pois bem, Cuarón levou duas estatuetas pela ficção científica intimista (direção e montagem) e viu dois dos seus melhores amigos dominarem o palco do Teatro Dolby nos anos seguintes.

 

Em 2014 e 2015, o superestimado Alejandro González Iñarritú igualou o feito de John Ford (1940/1941) e Joseph L. Mankiewicz (1949/1950) ao conquistar dois Oscar de melhor direção consecutivos, por Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (2014) e O Regresso (2015). Depois de um breve hiato em que o norte-americano Damien Chazelle venceu a categoria por La La Land - Cantando Estações, outro mexicano subiu ao centro do palco: Guillermo Del Toro, por A Forma da Água. 

 

Chazelle, ressalte-se, é o único laureado na categoria nesta década nascido nos Estados Unidos. O prêmio foi ainda para um inglês em 2010 (Tom Hooper, por O Discurso do Rei), um francês em 2011 (Michel Hazanavicius, por O Artista), e um taiwanês em 2012 (Ang Lee, por As Aventuras de Pi). Ou seja, há um fenômeno global em Hollywood.

 

Voltando a Roma, para o site de apostas Bwin, a probabilidade (odds) de Cuarón receber a estatueta de melhor diretor no dia 24 de fevereiro é de 1,5. 

 

Isso significa que quem apostar US$ 100 receberá US$ 50 de lucro caso o mexicano seja coroado. Segundo o mesmo site, o segundo vencedor mais provável é Bradley Cooper, por Nasce uma Estrela. Uma aposta nele dá US$ 325 de lucro para cada US$ 100 apostados. No principal prêmio da noite, porém, o filme de Cooper tem uma probabilidade maior de vencer: 2,3 de odds, contra 3,5.

 

Agora, o grande motivo para o otimismo veio nesse fim de semana. Roma foi  escolhido o melhor do ano pelas associações de críticos de New York, Los Angeles, Chicago, San Francisco, Toronto e online. Antes disso, o filme escrito e dirigido por Cuarón levou um Bafta de melhor filme internacional independente, venceu o Leão de Ouro no Festival de Veneza e tem três indicações ao Globo de Ouro do próximo ano (roteiro, direção e filme em língua estrangeira). Assim sendo, parece que o universo vem sorrindo para o Cuarón.

 

Ponto de vista

 

Obra cinematográfica via Netflix

 

Roma não é o primeiro e provavelmente não será o último. A Netflix investiu pesado para encorpar de qualidade seu fraco cardápio de filmes exclusivos. A maior rede de streaming do mundo, em geral, investe em quantidade, mas recorreu a nomes como o de Alfonso Cuarón e dos irmãos Coen para angariar alguma credibilidade. Nasceu assim um monstrengo de filmes de telona lançados para a TV - algo entre a glorificação da acessibilidade e o esvaziamento da mídia cinema.

 

O filme chega amanhã aos 120 milhões de assinantes do streaming pago e, ainda que a grandíssima maioria prefira assistir ao próximo filme exclusivo de Adam Sandler, a dimensão potencial que uma obra artística independente como Roma consegue desse modo é impressionante. Só que Oscar é prêmio de cinema e o lançamento do novo filme de Alfonso Cuáron em salas comerciais será propositadamente limitado. 

 

Essa briga com o cinemão talvez seja o calcanhar de Aquiles da campanha de Roma rumo ao Oscar. A Academia de Artes de Ciências Cinematográficas pode ser mais conservadora em suas escolhas, o que não faria jus à genialidade artística de Cuarón. Mas é um preço que se paga.

 

O cinema é cobrado pelo elitismo, preços altos, afastamento do público comum. A Netflix, massiva e esvaziada, tenta pegar emprestado o glamour para se revestir de credibilidade. E se esse imbróglio crescer, o mercado audiovisual corre o risco de se canibalizar. Do contrário, quem sabe, é uma oportunidade de uma mídia oxigenar a outra.

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