Logo O POVO+
Vida & Arte leu
Vida & Arte

Vida & Arte leu

Edição Impressa
Tipo Notícia

 

Dos bastidores da escrita de romances como Jubiabá, publicado na França pela prestigiosa Galimard quando o autor contava apenas 26 anos, até a frustração com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), a biografia de Jorge Amado percorre uma trajetória incomum na literatura brasileira. Não somente por se tratar de escritor cuja obra era efetivamente vendida e lida, dentro e fora do País, disso resultando que Amado alimentasse uma relação diferente com o mercado. Para ele, havia um virtuosismo no fluxo internacional e no diálogo além-fronteiras, exercício não só literário, mas político também. E nesse ponto o trabalho de Joselia Aguiar é muito feliz. Ao mostrar que homem e obra convergiam para a tarefa política, seja quando o escritor desempenhou funções parlamentares (foi autor, por exemplo, de uma lei que garantia a prática da religiosidade quando deputado constituinte), seja quando se voltou para o cerne da religião de matriz africana, a pesquisa fecunda ajuda a entender as nuances do escritor mais popular do Brasil. O retrato de Amado que resulta do trabalho é o de um autor engajado, filiado ao PCB, mas que punha sua própria obra e esforço em linha com a mesma lógica que regia a máquina de exportação do cacau, por exemplo. Riqueza da Bahia, o produto era metáfora de um Brasil local e globalizado, fincado na terra, mas pronto para ganhar o mundo. Foi essa cultura que Jorge Amado transformou em pedagogia e literatura. Os orixás, a negritude, a língua brasileira e a geografia ocupavam o mesmo lugar nos seus livros.


Henrique Araújo
é jornalista e mestrando em Literatura pela UFC

 

O que você achou desse conteúdo?