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Velha roupa colorida
Vida & Arte

Velha roupa colorida

| Moda | Da década de 1990 até hoje, os motivos que levam consumidores aos brechós se ampliaram e agora agregam um estilo de vida sustentável e cheio de novas possibilidades
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Eles eram tratados como alternativa à crise financeira que preocupava consumidores no início dos anos 1990. Bazares e brechós foram considerados a "mania de Fortaleza" entre pessoas que buscavam peças estilosas, variedade de artigos, acessórios de décadas passadas, preços baixos e roupas para qualquer ocasião. Quase 30 anos depois, esses estabelecimentos continuam visados na Cidade e encantando consumidores. Mas, agora, as motivações se multiplicaram. De locais onde se podiam conseguir roupas com custos menores, eles passaram a ser aposta para quem deseja uma vida mais sustentável e para quem busca peças estilosas - fugindo das araras pasteurizadas das lojas de departamento.

 

"Ao longo dos anos, os brechós foram criando seu espaço junto ao consumidor. O vestuário no Brasil é muito caro e uma ótima opção é comprar em brechós que vendem peças 'de marca' em perfeito estado e com preço justo", pontua Thayssa Sanches, gestora do Brechó Outra Vez, criado há 17 anos. "No brechó você consegue peças de vários estilos e cores, ajudando o planeta com o reuso, a sustentabilidade e o não descarte de peças", reforça.

Monique Dornelas, dona do Brechó Reinvenção, aberto em Fortaleza há 12 anos, explica que o novo momento dos brechós é motivado por uma organização das empresas - que têm investido em curadoria e qualidade. "Não há roupa rasgada, suja ou com defeitos. Tudo é higienizado. Faz com que a pessoa chegue e não tenha preconceito, pois está vendo produtos em boas condições. Antes, brechós eram bagunçados, sujos e espantavam as pessoas", diz Monique, que é formada em Design de Moda. Ela começou a frequentar brechós quando criança, no Maranhão, e, enquanto a mãe garimpava roupas, a menina se aventurava na compra de bonecas. No

Reinvenção há clientes de várias vertentes: quem aposta na sustentabilidade; quem busca roupas de frio; quem busca roupas e acessórios de grifes; quem busca vestidos de festa; e quem quer simplesmente economizar.

Isa Pertenelli, 24 anos, agregou os brechós ao estilo de vida. Com paciência e tempo - explica - é possível encontrar peças diferenciadas e cheias de possibilidades. A primeira entrada dela em um brechó aconteceu em 2014, quando adquiriu três peças que até hoje são usadas por módicos R$ 10. Nesse momento, começou a conhecer, estudar e refletir sobre os impactos que o consumo causa ao meio ambiente. Em aterros sanitários, lembra, há milhares de peças de roupas, pedaços de tecidos e outros resíduos de confecção com vida útil interrompida. "O planeta não suporta mais a produção de tantas peças", diz.

"Não é entrar na loja de departamentos e comprar porque está na moda, mas comprar porque gosta, se entende, se compreende e vê possibilidades com a peça que está lá e já foi usada", elucida Isa, que também é formada em Design de Moda. Para acertar nas compras, entretanto, é necessário ter paciência. Entrar nos brechós, passar os olhos pelas araras e dizer que "nada serve" é um erro comum entre as pessoas que fazem as primeiras visitas. "A dica para garimpar boas peças é trabalhar o autoconhecimento".

Em 1993, o Vida&Arte lançou a matéria "Guarda-Roupa da Crise", que foi assinada por Karine Rodrigues e abordava como brechós haviam se tornado queridos. À época, a empresária e modelo Gláucia Tavares foi ouvida sobre seu hábito de adquirir itens em lojas paulistas - que eram utilizados em produções de moda. Hoje, apesar de não frequentar mais brechós, Gláucia continua acreditando nas potencialidades desses empreendimentos. "Moda é uma coisa que você reedita a todo instante. Tudo que você pensar que era moda antes continua hoje. E se for realmente olhar o que vai ser tendencia para essa próxima estação, é capaz de encontrar muita coisa em brechós", acredita.

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