A experimentação dá o tom e o medo de errar não está tão visível. Passeio pelas ruas de mim [e de outros], novo livro do poeta Mailson Furtado Viana, nasce da forma que precisa ser. Quem conhece ao menos um pouco da escrita do cearense vencedor do Prêmio Jabuti sabe que ali há urgência - da palavra, a forma, da pintura, das pessoas, do contexto, da letra. E a nova obra - apesar de fazer uma curva entre os livros já lançados por Mailson até agora, incluindo o premiado e badalado à cidade - continua com a pressa e a urgência.

Lançado pela Luazul Edições, pequena editora que apoia o trabalho de escritores e escritoras cearenses, Passeio pelas ruas de mim [e de outros] já havia sido gestado e editado antes do burburinho causado pelo Prêmio Jabuti. Mailson ganhou a categoria poesia e o prêmio de livro do ano com à cidade - obra independente, escrita à mão e lançada em maio de 2017. Desde a premiação, que ocorreu em 8 de novembro, o cearense morador de Varjota viu a rotina, a vida literária e as perspectivas mudarem. Sendo assim, o novo livro nasce cheio de expectativas. Poderá Mailson repetir o mesmo feito? Esse novo livro manterá o mesmo padrão do premiado à cidade?

Passeio pelas ruas de mim [e de outros] é repleto de experimentações. Mailson parece estar testando sua própria escrita e os efeitos causados nos leitores. Fotografias, fontes diferenciadas, espaçamentos e outros recursos entram no jogo para compor a obra de 112 páginas - que encanta mais pela diversidade do que pela potência.

Esse "passeio" prometido pelo poeta transborda entre casas, ruas, janelas, cômodos e praças. Fugindo de formalidades, Mailson pinta quadros sobre ambientes e sobre suas perspectivas nesses locais. É um livro que reflete sobre tudo aquilo que faz falta nos espaços físicos e, também, mostra um ser-poeta que está buscando a si mesmo. Não há a busca que angustia, não há a busca que faz rir, não há a busca cheia de clichês. É apenas um livro de espaços e de encontros. Alguns temas cotidianos - a casa, as férias, a profissão - saltam aqui e ali. Mas nada que retira Mailson de seus propósitos: experimentar, criar, encontrar novas e diferentes formas de expressão. O POVO teve acesso a versão digital da obra antes de seu lançamento.

Críticos, claro, existirão a esse novo Mailson que se apresenta em seu "livro fora da curva". Mas eles já estavam aqui antes. E estarão depois, depois e depois. Talvez o poeta não estivesse tão preocupado com isso quando escreveu os textos e fez a edição. Passeio pelas ruas de mim [e de outros] nasce envolto em expectativas, mas pouco ligando para as reações que vai causar. É um livro curioso. Em seus textos, em seus espectros e em seu nascimento. As 112 páginas deixam o leitor mais atento intrigado e o menos atento, confuso. A nova obra - que estará disponível para venda apenas a partir de quinta-feira, 29, na Festa Literária da Associação Cearense de Escritores (ver serviço) - mostra um Mailson diferente do poeta premiado que chegou a Varjota com pompa e circunstância após receber a maior premiação literária do País. E é um livro que surge como prova da importância de reinventar o próprio fazer poético todos os dias.

Passeio pelas ruas de mim [e de outros]
Lançamento: quinta, 29, às 20 horas
Onde: Durante a Festa Literária da Associação Cearense de Escritores (FliAce), no Shopping Benfica.
Preço: R$ 25