"Não somos minorias, somos minorizados", declara Marcela Bonfim, fotógrafa, mulher e negra, com falas tão potentes quanto as suas fotografias. Força esta que ela encontrou e encontra em meio às suas vivências, percepções e reconhecimento de outras pessoas negras de diferentes lugares do País, mas que dividem histórias, ancestralidades e resistências. "Estão querendo esvaziar os nossos corpos e estamos aqui no processo de preenchimento".
E este processo é o que ela propõe para Fortaleza na exposição (Re)Conhecendo a Amazônia Negra, que entra em cartaz na Caixa Cultural a partir de hoje, 1º, com uma visita guiada às 19 horas com presença da fotógrafa Marcela Bonfim. Com entrada gratuita, as visitações acontecem de terça a domingo, até o dia 23 de dezembro.
Natural de Jaú, no estado de São Paulo, Marcela viu a vida mudar em 2009, diante das dificuldades de encontrar um emprego após se formar em Economia. A convite de uma amiga, ela muda-se para Rondônia, região Norte do País, à procura de uma oportunidade na sua área de formação, mas encontrando outra completamente diferente.
"Quando chego a Rondônia, eu me deparo com situações que nunca tinha parado pra ver", conta Marcela. Mas, a partir de então, ela parou e viu. Em cima das duas rodas de uma bicicleta, a artista começa a fotografar a cidade de Porto Velho munida apenas de uma câmera e uma nova percepção do tempo. "Em São Paulo, a gente vive em uma labuta louca, desenfreada", explica. "Em Rondônia, eu encontrei o tempo".
Através das lentes da câmera, Marcela começa a encontrar pessoas e narrativas até então desconhecidas para ela. "Tanto em Jaú quanto em São Paulo, eu nunca havia visto tantos negros e tantas histórias sobre negros", lembra. "Eu comecei a fotografar e, sem perceber, dois anos depois, eu vi que tinha um acervo de fotografias de pessoas negras".
Neste processo de olhar o outro, Marcela começa a se reconhecer e pensar na imagem e na história da negritude no Brasil. "Lá, vendo tantos negros, eu comecei a achar eles bonitos e a buscar a beleza em mim, que havia sido destruída por um padrão que deixa o negro de lado. O negro no Brasil é muito destruído em relação à sua imagem. Hoje, uma criança negra no Brasil já nasce com (o peso de) 300 anos. A história oficial não insere a negritude de forma nítida, sempre nos colocando como marginalizados, como vítimas".
Com referências na escritora negra e favelada Carolina Maria de Jesus, Marcela vê a sua exposição como uma possibilidade de reproduzir esses encontros que ela viveu. Por meio das 55 fotografias, ela convida o público a conhecer a história de "55 referências de negritude", que é como a artista chama as suas personagens."Se eu me reconheço nessas imagens outras pessoas também podem se reconhecer", é o desejo que ela compartilha. "Se a pessoa não é negra, ela encontra um amigo que é negro, o avô que é negro. Ela vai encontrar com alguém, ela vai se reconhecer".
Mostra (Re)Conhecendo a Amazônia Negra
Quando: abertura com visita guiada hoje, 1º, a partir das 19 horas; em cartaz até 23 de dezembro
Onde: Caixa Cultural Fortaleza (avenida Pessoa Anta, 287 - Praia de Iracema)
Visitação: de terça a sábado, das 10 às 20 horas; domingo, das 12 às 19 horas
Entrada gratuita