Marco Chaves chegou aos Estados Unidos na mesma onda que levou milhares de brasileiros na década de 1980 a tentar a sorte naquele país, para "ganhar em dólar" e ter uma vida melhor. Era precisamente o dia 16 de junho de 1987, quando tinha 18 anos, como relembra. Da cozinha onde começou lavando pratos, em Boston, ao posto de chef do restaurante francês Be Our Guest, no Magic Kingdom - mais emblemático parque do complexo Disney, em Orlando - o caminho foi longo, mas cheio de determinação e conquistas. Inaugurado há cerca de quatro anos, o Be Our Guest reproduz cenários do clássico A Bela e a Fera e é considerado o mais concorrido restaurante temático entre todos os existentes na Disney. A espera pela reserva de uma mesa ali supera os seis meses. Por dia, a casa atende cerca de 5 mil clientes para café da manhã, almoço e jantar. Antes de assinar o cardápio do Be Our Guest, Marco Chaves trabalhou em outros oito restaurantes do complexo, incluindo o do Castelo da Cinderela, também no Magic Kingdom. 

O Vida&Arte visitou o Be Our Guest e conversou com o brasileiro, que, apesar dos mais de 30 anos em terras norte-americanas, preserva o sotaque mineiro da terra natal, Governador Valadares, mas vez por outra derrapa num "of claro", of course!

O POVO - Você tinha algum plano de trabalhar com gastronomia? Ou veio para os Estados Unidos sem saber o que ia fazer?
Marco Chaves - Eu vim meio no escuro. Eu tinha vontade, mas quando eu cheguei aqui foi que fui aprimorando e pegando mais o gosto, que é uma coisa que não é do dia pra noite. Você tem que aprender bastante e o trabalho é bem pesado, tem muitas horas. Como em qualquer profissão: se você não tiver o gosto e se sentir feliz fazendo aquilo é muito difícil.

OP - Você passou por toda aquela hierarquia da cozinha, começou por baixo...
Marco - Claro. Todo mundo faz isso. Você começa lá de baixo e pouco a pouco vai crescendo. E é bem difícil você chegar ao ponto que você quer, porque a concorrência também é muito grande. Aqui mesmo no Be Our Guest a gente tem 140 cozinheiros. Quer dizer: todo mundo que chega vem com o mesmo propósito, com o mesmo sonho de virar um chef.

OP - Qual foi o seu primeiro posto dentro de uma cozinha?
Marco - Pra começar, quando eu morava em Boston, fui contratado pra lavar prato.

OP - E até chegar à posição de chef, qual foi o seu caminho?
Marco - Em 1991, em Boston, onde eu morei por nove anos, virei chef de cozinha de um hotel. Na verdade eles chamam de sous chef. Eu trabalhava à noite, era o encarregado do turno na noite. Aí fui me desenvolvendo e dali eu passei pra um outro restaurante em Boston mesmo, e fui crescendo dessa forma.

OP - Como você chegou à Disney?
Marco - Eu vim disputar um torneio de futebol em Miami e resolvi ficar mais uns dias de folga e falei: Vou à Disney. Na hora que eu cheguei aqui pensei: é muito restaurante! Vou mudar pra cá porque não vou ficar sem emprego! E aí que me encantou. E quando eu comecei a trabalhar na Disney, em 1996, eu me senti em casa.

OP - Mas aqui você já começou trabalhando como chef?
Marco - Não. aqui eu comecei como chef assistent, que é um cargo abaixo do sous chef. Você tem que provar pra companhia e pros superiores para os quais você está trabalhando que você tem condições de fazer aquilo, porque é tudo muito grande. Você tem que mostrar muito serviço. Então demorou um pouquinho, mas eu cheguei lá.

OP - Qual o grande desafio de elaborar um cardápio para a Disney?
Marco - O que você apresentar, você tem que prover para o freguês que vem todos os dias. Se tem um, dois, cinco mil guests, você tem que ser consistente. Se você apresentar um prato e só conseguir fazer para 100 pessoas, nem apresente. Porque você não vai conseguir ter sucesso.

OP - Qual a liberdade que você recebe para criar pratos aqui na Disney?
Marco - A gente tem liberdade para fazer o que for certo para o restaurante. Eu não posso colocar uma comida mexicana num restaurante francês. Tem algumas coisas que a gente não pode usar. Algum tipo de animal que a companhia não deixa você colocar no seu cardápio, certo? Claro, eu tenho superiores que eu tenho que apresentar a eles os cardápios e eles têm que aprovar sobre o sabor, sobre como é que está o tempero, quanto é que vai custar... Tudo isso é um processo.

OP - Quais são as influências do cardápio? Tem um toque brasileiro?
Marco - Claro que sim! Eu gosto de tempero, sal, pimenta e alho, com certeza. A comida da gente tem sempre que estar bem temperada. Tudo isso é influência de cada chef. De minha parte são ervas frescas, coisas que eu sempre gostei e é uma influência que eu trago desde casa.

OP - O que você, como chef, diria que é imperdível no seu cardápio?
Marco - Amo escargot, é o que indico pra comer. Em segundo lugar, o filé mignon. Mas pra mim todos eles são especiais.

OP - Pra encerrar, qual o seu personagem favorito?
Marco - O Pato Donald, of claro! (risos)

*A jornalista viajou a convite da Walt Disney World Resorts

Atente aos detalhes

O restaurante Be Our Guest fica ambientado no Castelo da Fera, no Magic Kingdom. Ele tem 550 lugares e três ambientes, o The Grand Ballroom (salão principal, onde chamam a atenção os imensos lustres trazidos da França), o The West Wing (salão mais escuro onde a Fera guarda - assim como no filme - sua rosa encantada), e a Rose Gallery.

Os horários de funcionamento podem variar de acordo com a temporada e a programação de festas temáticas que acontecem no parque, como Halloweeen e Natal. Sempre bom checar o site antes de agendar!

No jantar o visitante pode ter uma experiência gastronômica com o menu de preço fixo. São três pratos que incluem uma entrada (tudo com toque francês como sopa de cebola, polvo ou o clássico escargot), seguido de um prato principal e um trio de sobremesas. Quanto: US$55 ( taxas por adulto) ou US$35 ( taxas para crianças 3 a 9 anos)

Apenas no jantar também o visitante pode encontrar e tirar foto com a Fera, um dos momentos mais esperados por muitos clientes.