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Mais do que se pode supor
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Mais do que se pode supor

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O novo e premiado filme do diretor francês Cédric Kahn fala sobre o religioso. Focando na história de Thomas (Anthony Bajon), um jovem viciado em heroína que passa por um tratamento de reabilitação numa espécie de retiro católico, A Prece aborda a adicção e a religião de modo direto, sem arroubos ou afetações. O filme, que venceu o Urso de Prata de Melhor Ator para Bajon no Festival de Berlim deste ano, está em cartaz no Cinema do Dragão.

 

Thomas passa, ao longo da desintoxicação, por processos internos, como revolta, assimilação, aceitação e resiliência daquele contexto. Na casa onde vivem os recuperados, a religiosidade se equilibra entre bálsamo e autoritarismo - de uma maneira ou outra, ela é sinônimo de salvação. Mesmo trazendo esse arco narrativo, o filme não coloca a religião como única opção, mas como "possibilidade", como define o diretor em entrevista ao O POVO (leia abaixo). "Os jovens também são salvos pela amizade, pela vida em grupo", complementa.

 [SAIBAMAIS]

A ideia difundida pelo longa, no fim das contas, é a da necessidade de motivações externas para mudanças internas - fé, amigos ou até um amor, as três "possibilidades" presentes em diferentes momentos de A Prece. Dependendo do olhar do espectador, o filme pode ser visto como uma afirmação de crenças religiosas ou um questionamento a elas - a obra se fortalece, inclusive, por conseguir dar vazão à crença e à descrença sem ser nem pregador nem julgador.

 

Apesar das forças, A Prece acaba se atropelando no terço final com uma série de "reviravoltas" que soam forçadas, indo contra a naturalidade que tinha enquanto observava atentamente a trajetória pessoal de Thomas e seu contexto. Essas "viradas" se ligam de maneira solta, em idas e vindas em decisões narrativas sem aprofundamento. Por este fim apressado e afetado, A Prece perde a aura observadora e positivamente rígida que alcançara. Os aspectos formais, no entanto, se mantém no mesmo nível ao longo da obra - alguns planos, por exemplo, se repetem em diferentes situações, trazendo paralelos visuais para a trajetória subjetiva do protagonista. Mesmo com essas ressalvas, o filme se destaca por uma bem-vinda complexidade. A quem se dispor a ver com olhos atentos, há mais em A Prece do que se pode supor numa primeira visão.

 

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