Logo O POVO+
"É preciso escutar os fantasmas"
Vida & Arte

"É preciso escutar os fantasmas"

| Terror | Cinema do Dragão realiza hoje sessão do filme cearense A Misteriosa Morte de Pérola seguida de debate com os realizadores, Ticiana Augusto Lima e Guto Parente
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

Portas que se abrem sozinhas, que fecham pesadas. Vento que mexe com os pertences e com as pessoas, que dá frio na espinha e parece sussurrar algum segredo. O "terror romântico" A Misteriosa Morte de Pérola, dirigido pelos cearenses Guto Parente e Ticiana Augusto Lima, chegou aos cinemas comercialmente na semana passada, depois de meia década de sua produção. Rodado em 2013 durante mestrado da dupla na França, o filme percorreu festivais nacionais e internacionais durante alguns anos até ser novamente colocado em evidência com a estreia, promovida pela distribuidora Embaúba Filmes.

 

O filme conta a história de uma jovem estudante que mora em outro local que não o de nascença. Num apartamento antigo, sem a normalidade do cotidiano de sempre, os limites entre impressão, fato e imaginação começam a se confundir. Hoje à noite, às 20 horas, a exibição do longa no Cinema do Dragão será ampliada com um debate que trará Ticiana e Guto. Adiantando alguns temas e pautas sobre a obra, o Vida&Arte conversou com o diretor sobre a experiência de filmagem e o processo de distribuição.

A Misteriosa Morte de Pérola - exibição seguida de debate com realizadores

Quando: hoje, 13, às 20 horas

Onde: Cinema do Dragão (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)

Quanto: R$ 10 (inteira - preço promocional)

Mais infos.: goo.gl/6HdqKX

 

Entrevista com Guto Parente

 

O POVO - De onde veio a ideia de fazer esse suspense? E que temas o filme aborda?

Guto Parente - O filme foi realizado enquanto eu e Ticiana estávamos fazendo um mestrado. O filme se relaciona muito com nossa experiência e nosso dia-a-dia em Chalon-sur-Saône, pequena cidade do interior da França em que vivemos nesse período. O apartamento no filme é o apartamento em que morávamos. E desde que entramos lá pela primeira vez sentimos a presença de inúmeros fantasmas, com os quais passamos a conviver durante bastante tempo. E eles não paravam de suspirar nos nossos ouvidos ideias para um filme de suspense. É preciso escutar os fantasmas.

 

OP - Ticiana é diretora e protagonista do filme. A escolha de se colocar como personagem diz respeito a uma alguma relação estabelecida na obra entre ficção e realidade?

Guto - Ficção e realidade se cruzam o tempo todo no filme, desde a sua gênese. Ticiana conseguia enxergar muito mais fantasmas do que eu. E isso às vezes a deixava um bocado assustada. Então eu passei a observá-la com mais atenção e a escrever um roteiro baseado em situações que eu via se repetindo constantemente. Nisso empenhei toda a minha obsessão. A Misteriosa Morte de Pérola é um filme sobre medo, repetição, solidão e obsessão. Um filme que criamos juntos a partir de coisas muito nossas.

 

OP - No diálogo com o cinema de gênero, que diretores e filmes foram referenciais para o trabalho? 

Guto - Tem muita gente e muitos filmes. Lembro que na época fizemos maratonas de filmes de diretores como Mario Bava, Dario Argento, assim como muita revisão em cima de clássicos do terror americano que marcaram a minha adolescência, como A Hora do Pesadelo, Halloween, O Massacre da Serra Elétrica, O Iluminado, enfim, muita coisa. E tem uma homenagem bem direta dentro do filme, que é Os Olhos sem Rosto, do Georges Franju. Um filme que amamos, de um cineasta francês bem singular.

 

OP - A distribuição é costumeiramente o ponto mais crítico do processo de um filme, com demoras entre produção e lançamento comercial sendo naturalizadas. Tendo A Misteriosa Morte de Pérola sido produzido em 2013/2014, ido a festivais como o de Roterdã em 2015 e estreando no Brasil em 2018, como avaliam esse processo de distribuição?

Guto - Sendo bem sincero, o que aconteceu é que depois do Pérola circular em festivais, a gente acabou se envolvendo com mil outros projetos (de lá pra cá eu dirigi mais três longas e Tici, além de produzi-los, produziu mais outros três ou quatro, além de séries, núcleo criativo, etc), então acabamos não conseguindo nos empenhar para um lançamento comercial do Pérola à época. Porque lançar um filme é muito trabalhoso. Como você mesmo coloca, é o ponto mais crítico do processo de um filme. Mas agora encontramos um parceiro, que é o Daniel Queiroz, da Embaúba Filmes, que é um distribuidor super sensível e talentoso e que conseguiu nos empolgar para a distribuição do Pérola. Está sendo ótimo trabalhar com ele e muito legal ver nosso terror romântico chegando em novos públicos.

 

 

O que você achou desse conteúdo?