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As didáticas e polêmicas Super Drags
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As didáticas e polêmicas Super Drags

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Como toda boa drag queen, as Super Drags chegam fazendo escândalo, no sentido mais tradicional da palavra e no que ficou comum no universo LGBTQ%2b. Meses antes do lançamento da animação que chegou ao catálogo da Netflix em novembro, a Sociedade Brasileira de Pediatria chegou a emitir uma nota alertando sobre "os riscos de se utilizar uma linguagem eminentemente infantil para discutir tópicos próprios do mundo adulto". Em resposta, a produção declarou que a série era voltada para o público adulto e deixou isso mais do que evidente: nos trailers e nos próprios episódios a animação estampa tarjas e avisos com a censura para maiores de 16 anos.

 

E quem pensou que o escândalo acabava após o lançamento, estava enganado. Durante a semana em que se passou, mesmo entre o público adepto da cultura LGBTQ , redes sociais e grupos de amigos se dividiram entre os que se divertiram com as aventuras do trio de drag queens da série e os que viram atos problemáticos, apontando falocentrismo e reforço de ideias e atitudes preconceituosas dentro do próprio universo gay.

 

De fato, apesar do universo fantástico, os cinco episódios de 20 minutos de Super Drags fazem uma forte alusão ao cotidiano do público homossexual, com as alegrias e dramas. As protagonistas são um bom exemplo disso.

 

Patrick (voz original de Sérgio Cantú), que torna-se a elegante e inteligente Lemon Chifon, enfrenta o drama da gordofobia e tem um episódio voltado para discutir os padrões de estética corporal, inclusive um dos melhores. Ralph (voz original de Wagner Follare) é Safira Cyan, sensível e cheia de referências à cultura pop japonesa, mas que vive distante da família que não o aceita como um homem gay. Donizete (voz original de Fernando Mendonça) vira Scarlet Carmesim, a mais forte e estressada, que traz os dramas do gay das periferias das cidades. Ainda se somam a este elenco principal a mentora Vedete Champagne (voz original de Silvetty Montilla), uma espécie de Jerry de Três Espiãs Demais, e a popular Goldiva (voz original de Pabllo Vittar).

 

Apesar dos trocadilhos, como o bordão "Dildo, introduza", usado por Vedete para comunicar-se com o computador pessoal, o humor de Super Drags vem, em grande parte, de um reconhecimento do público. É preciso ter algum background da cultura pop e LGBTQ para entender as diversas referências a divas do pop, inclusive a Pabllo Vittar e Anitta, aos produtos de entretenimento, e até personagens da televisão, como o Seu Peru, da Escolinha do Professor Raimundo, e a Grávida de Taubaté.

 

É também do reconhecimento que parece vir o incômodo. Um exemplo é a criticada cena de abertura, nos primeiros minutos da animação, mostrando um falocentrismo que, se em um primeiro momento incomoda, no decorrer da série, faz refletir sobre práticas e discursos enraizados na própria cultura popular LGBTQ . Em outro momento, a atitude pedante da drag Goldiva nada mais é do que uma crítica ao comportamento de diversos artistas do ambiente pop. Em meio ao humor, Super Drags adiciona, de forma que aparenta até despretensiosa, uma boa dose de didatismo ao público.

 

Mesmo diante das polêmicas, a animação se desenvolve da melhor maneira possível dentro dos seus rápidos episódios, em uma curta temporada. Há espaço para humor e festa, para um forte enfrentamento de uma cultura reacionária e conservadora e, ainda, para a tão falada autocrítica. Supe Drags chega à Netflix "preparada para atacar", nas palavras de Goldiva. O que se espera, agora, é uma mais encorpada segunda temporada.

 

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