Logo O POVO+
Reencontrar a história e (re)viver o SÃO LUIZ
Vida & Arte

Reencontrar a história e (re)viver o SÃO LUIZ

| Memória | Em 24 de outubro de 2011, após período de muitas incertezas, Cineteatro São Luiz era adquirido pelo Estado e se tornaria um dos mais importantes equipamentos culturais da Cidade
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

Não há pessoa que não tenha uma história para contar sobre o Cineteatro São Luiz. O primeiro beijo, a primeira ida ao cinema sozinho, o tradicional passeio de família. Muitas narrativas passam pelo equipamento cultural que, em 2018, completou 60 anos de existência. Houve um hiato nessa trajetória, entretanto - entre julho de 2010 e outubro de 2011. Construído pelo Grupo Severiano Ribeiro, atual Kinoplex - que iniciou a obra em 1939 e só finalizou em 1958 - o São Luiz sofreu perdas com a chegada e a expansão das salas de cinema nos shoppings. Esvaziado de público, o local, que antes só comportava a entrada da elite trajando paletó, viu sua plateia minguar.

 

A pompa de outrora foi substituída por uma sofrida decadência. E os anos 2000 foram decisivos para que o Cine São Luiz, postado diante da Praça do Ferreira, no Centro da Capital, fosse elevado à categoria de equipamento cultural e tesouro das artes que tem hoje. O equipamento chegou a ter data marcada para a última sessão: 18 de agosto de 2005. Mas, nesse mesmo dia, a Fecomércio anunciou o arrendamento do prédio para a instauração de um centro cultural. A ocupação durou apenas até julho de 2010, metade do tempo previsto. Rescindido o contrato entre a família Severiano Ribeiro e a Federação do Comércio, o destino do São Luiz foi ficar de portas fechadas. A situação continuaria indefinida até outubro de 2011, quando, após uma negociação que durou mais de um ano, o principal cinema de rua de Fortaleza se tornou um bem público.

 

Comprado pelo Governo do Estado e com a Secretaria da Cultura (Secult) funcionando no mesmo prédio, o Cineteatro São Luiz teve uma nova chance. Como o Vida&Arte; noticiou na edição de 24 de outubro daquele ano, a Praça do Ferreira foi palco para a assinatura do contrato - que selou o acordo de R$ 2,2 milhões. Foi o preço pago para retirar o equipamento da iniciativa privada e transformar, enfim, no espaço que a Cidade merecia. A matéria, assinada pelo jornalista Marcos Sampaio, mostra que a reunião que fechou o acordo teve as presenças de Auto Filho, secretário da Cultura à época; Luiz Gastão Bittencourt, presidente da Fecomércio responsável pelo arrendamento; e Luiz Henrique e Beatriz Severiano Ribeiro, representantes do Grupo Severiano Ribeiro. Durante as negociações, chegou a ser cogitada a cifra de R$ 4 milhões.

 

"É impressionante como, até hoje, quatro anos após o São Luiz ter sido reinaugurado, todo dia, quando termina um filme, escutamos as pessoas aplaudindo. E as pessoas estão aplaudindo não só o filme, mas é a experiência de assistir um filme no São Luiz", explica a atual gestora do equipamento, Rachel Gadelha. Como principal sala de cinema da Cidade durante décadas, aquele local abrigou, em sua plateia, crianças que se tornaram nossos artistas de hoje. Isso, aponta Rachel, é uma das razões para a emoção de muitos deles ao pisar no palco do Cineteatro. "Quando a gente sobe lá, vem a memória de todos os filmes", pontua o músico e produtor Mimi Rocha. "Eles ficam muito emocionados. Eles se sentem. Existe uma aura. É quase como se fosse um templo. No campo do intangível, da arte, do lugar que transporta. Não é ir bem ali fazer um show. É pisar no palco do São Luiz. Os artistas sentem isso", enfatiza Rachel. Com a reinauguração e o novo fluxo do São Luiz - que, além dos filmes, recebe importantes espetáculos musicais e teatrais - Mimi pode novamente se transformar em público. "Para quem viveu o espaço aos 12, 13 ou 14 anos, é muito bacana fazer novamente parte, como artista ou espectador".

 

O cardápio de atrações do Cineteatro São Luiz, atualmente, é a própria definição de eclético - passando por produções cinematográficas de diferentes eixos e shows musicais que vão de João do Crato e Elza Soares até Liniker e Nando Reis. A multiplicidade de atrações, pontua Rachel Gadelha, garante que novos públicos ultrapassem as portas do foyer. Desde a reabertura, que aconteceu em maio de 2015, após longos processos de reforma e restauro, já são contabilizados 545 mil espectadores.

 

"Quem começa a vir tira o mito do entorno. Mas quem nunca veio é muito interessante. Conhecemos os públicos e, às vezes, um evento traz um público que não é acostumado. As pessoas descem apavoradas. E a gente sabe que não é assim. Tudo é hábito", elucida Rachel. Hoje, na opinião da gestora, não é mais possível falar de um único público para o espaço - que atende várias pluralidades. "Vamos chegando, ocupando e transformando. Estamos vivendo um processo. É lindo viver e fazer ele cumprir as suas etapas".

 

O que você achou desse conteúdo?