Logo O POVO+
Poesia de livro e disco
Vida & Arte

Poesia de livro e disco

| Letras | Carlos Rennó revisa 40 anos de música em projeto multimídia que inclui inéditas com Arnaldo Antunes, Felipe Cordeiro e outros
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

Em 1978, o disco Tetê e o Lírio Selvagem apresentou dois nomes que dariam muito o que falar nos anos seguintes. Um deles é Tetê Espíndola, cujos agudos seguem desafiando frequentadores de karaokê pelo Brasil. O outro é Carlos Rennó, autor de três letras do álbum. Talvez pelo interesse em comum por ecologia, a parceria deu outros frutos, sendo o mais famoso Escrito nas Estrelas, que a cantora sul-matogrossense defendeu no Festival dos Festivais em 1985.

 

"É um tipo de canção que me agrada fazer, mais popular, quase brega. Lamento não fazer mais por que meus parceiros não me dão melodias desse tipo", comenta Carlos Rennó, sobre a composição que levou o primeiro prêmio naquele megaevento. Quarenta anos depois, o letrista de São José dos Campos passa a limpo sua produção em livro e disco. O livro Canções reúne letras feitas para os mais diversos parceiros, além de ensaios escritos pelo compositor José Miguel Wisnik e pelo doutor em Letras Marcelo Tápia.

 

Já o disco Poesia traz alguns desses parceiros em versões intimistas para canções inéditas e alguns sucessos. Entre os convidados, estão Gerônimo, João Bosco e Pedro Luís. "A ideia inicial combinava um disco e um livro de letras (num produto só). Dessa forma, eu apresentaria um repertório com letras minhas mais literárias, mas influenciadas por poesia de livro", explica Rennó, que acabou desmembrando o projeto que traz outras canções para serem acessadas por QR Codes espalhados pelo livro.

 

Ele conta que o desejo de ser poeta veio cedo. "Eu gostava muito de canção popular, desde pequeno. Na adolescência estava com aspirações para ser poeta. Quando conheci Tetê, decidi combinar as duas coisas e fazer poesia cantada", explica. E Tetê Espíndola, claro, é uma das convidadas do disco, cantando ao lado de Arrigo Barnabé em Outros Sons. Outros dois parceiros que retornam em Poesia são Gilberto Gil e Lenine. O primeiro refaz a existencialista Átimo de Pó, lançada no álbum Quanta (1995). Já Lenine toca violão em Todas Elas Juntas num Só Ser para um coro de vozes formado por Ellen Oléria, Leo Cavalcanti, Simoninha e outros.

 

Entre os novos parceiros, Rennó cita Arnaldo Antunes e Felipe Cordeiro. Com Arnaldo nasceu Nus, um entrelaçamento de verbos que narra uma transa cheia de poesia. Com o segundo, Rennó exalta seu lado mais politizado, com Hidrelétrica Nunca Mais. "Minhas primeiras canções eram ecológicas. Ou seja, já eram canções políticas", lembra ele, que voltou a abordar o assunto nos anos 1990, a partir da preocupação com o efeito estufa. "A questão ecológica implica na questão social. Não é possível melhorar de vida as classes pobres sem que a desigualdade diminua drasticamente. Se isso não acontece, quem paga é o meio ambiente", explica o também autor de Nenhum Direito a Menos, com Moska.

 

Emendando muitos trabalhos, Carlos Rennó chegou aos 62 anos como um dos letristas mais requisitados da MPB. Versátil e criativo, sua presença é garantia de mensagens diretas em palavras certeiras. Mesmo que isso lhe tenha um custo. Perguntado sobre quando ele percebe que a letra ficou boa e pronta pra chegar ao parceiro, responde: "Quando eu acho que talvez me canse. Tudo é escrito e reescrito. Tudo é trabalho e trabalhoso. Embora eu sempre me satisfaça parcialmente".

 

Outros projetos

Outra porção importante da obra de Rennó é seu trabalho de versionista, que já rendeu dois discos. O primeiro foi Canções&Vers;ões (2000), com 14 versões para canções de George Gershwin e Cole Porter. Entre os convidados do disco estavam Rita Lee (Blablablá), Caetano Veloso (Que de-lindo) e Paula Toller (Quem tome conta de mim). O outro foi Nego (2009), com standards norte-americanos compostos por judeus. Entre os destaques, Gal Costa (Meu romance), Elba Ramalho com Dominguinhos (Eu tenho um xodó por ti) e Erasmo Carlos (Verão).

 

Carlos Rennó é autor do livro O Voo das Palavras Cantadas (2014), compilação de artigos escritos para jornais e revistas sobre poesia e música popular. Em 1996, ele organizou para a Companhia das Letras o livro Gilberto Gil - Todas as Letras, com composições comentadas pelo músico baiano.

 

 

O que você achou desse conteúdo?