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Vinte e cinco anos se passaram e as facilidades de ir e vir são uma realidade, as redes sociais são ferramentas potentes nessa transposição de fronteiras e abriram-se novos caminhos e possibilidades. Desta feita, não é possível apontar, nesses tempos, somente uma tendência, seja ela de permanência ou movimento, dos artistas cearenses.

 

O dramaturgo Ricardo Guilherme, que optou por fincar vida e obra no Ceará desde antes daquele 1993, destaca o papel da tecnologia nesse processo. "No tempo em que vigora a internet, há possibilidade de inserção mais evidente no que se refere à visibilidade das produções oriundas de núcleos que estão fora, por exemplo, do habitual eixo Rio-São Paulo", avalia. Em diálogo, o realizador audiovisual Leonardo Mouramateus complementa: "O ir e vir constante é uma opção viável para quem tem uma farta conta bancária, mas hoje tudo é muito mais perto, e nada que a criatividade, a insistência e chamadas por Skype não resolvam", afirma. A cantora Mona Gadelha faz coro. "Embora eu esteja vendo uma disposição de pessoas saírem da Cidade para ter uma visibilidade maior, com a tecnologia você está em todo lugar ao mesmo tempo, transmite o ensaio ao vivo", avalia.

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Mona saiu do Estado em 1985, num contexto que apontava sempre para o sul. "O movimento de ir para São Paulo, Rio, vem desde os anos 1970. Era uma necessidade de ampliar os horizontes, se aproximar de gravadoras", estabelece. "Antes de deixar o Ceará, eu estava pensando em identidade visual, figurinos, cenário, fazendo temporadas no Teatro da Emcetur, lançando um compacto simples, e as pessoas falavam: 'você tem que mostrar seu trabalho fora, tem que expandir'. Até a época em que eu morava aqui, havia de fato uma limitação de possibilidades, de divulgação, de difusão", recorda. Hoje as vivências acumuladas de Mona são divididas com os artistas que compõem o Laboratório de Música do Porto Iracema das Artes, coordenado por ela. "A cena hoje é bastante vigorosa, rica em termos de criação artística. Ainda se precisa de muita difusão, divulgação. Existe certa mentalidade de que o artista precisa estar nos veículos nacionais ou internacionais para ser reconhecido na sua cidade. Tem um pouco disso, mas acho que não precisa (deixar o Ceará). Não vejo aquela situação dos anos 1970, 1980, que você quase obrigatoriamente tinha que sair", compara.

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Vivendo em Lisboa desde 2014, Leonardo Mouramateus revela que a possibilidade de sair do Ceará foi fruto, no caso, do bom momento artístico do Estado. "Conforme os filmes que dirigi foram sendo exibidos em festivais, pude conhecer novos lugares. Ir e voltar foi se tornando um processo habitual", contextualiza. As dificuldades, ele lembra, foram contornadas pelos próprios artistas. "A limitação na produção e na distribuição já tinha sido quebrada no Ceará pelo Alpendre (espaço artístico na Capital) e pela Alumbramento (produtora de cinema cearense). Há muitos exemplos que nunca me fizeram pensar que Fortaleza limitava minha atuação artística. Foi a pulsação das pessoas da Cidade que me encheu de fôlego desde o primeiro curta", considera Leonardo. "Continuo a sentir que não fui embora. Tenho a sorte de estar em permanente contato com Fortaleza. Talvez não fui eu que saí, talvez foi a cidade que se expandiu", reflete. "Continuo a acreditar - assim como devia pensar o Leonilson - que a limitação ainda se dá em nível institucional, meio que não raramente é ainda mais conservador e burocrático do que o público de Fortaleza", pontua.

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A trajetória do ator e diretor Daniel Dias da Silva, que há 20 anos deixou o Estado rumo ao Sudeste, reafirma a força do contexto. "Na minha época, o mercado era incipiente, tímido. Isso criava uma limitação. Eu senti necessidade de me mudar para ter esse acesso", reconta. Hoje, Daniel celebra o fortalecimento da arte no Estado. "O Ceará cresceu bastante. Hoje há curso superior de teatro, o que na minha época não havia. Mais caminhos se abrem, grupos fazem trabalhos consistentes e têm reconhecimento no Estado e fora. O fluxo de ir e vir é bastante saudável e é o que faz com que, diante de um cenário ainda difícil de produção e circulação, a gente possa ter um corredor de diálogo possível e necessário", defende.

 

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