Foi de dentro da periferia de São Paulo que Carolina Maria de Jesus escreveu seus diários, reunidos no livro Quarto de Despejo, em 1960. Mulher, negra, mãe e favelada, a escritora entrou para a história da literatura nacional por contar, sob um ponto de vista único, os embates enfrentados diariamente pelo povo pobre no Brasil, em especial as mulheres.
Quase cinco décadas depois, a obra chega às mãos dos integrantes do Grupo Nóis de Teatro durante uma experiência cênica, o que resultou em um projeto aprovado no Laboratório de Teatro do Porto Iracema das Artes em 2017. Sob a tutoria de Adriana Schneider, foi desenvolvido o espetáculo Despejadas, que estreia hoje, 18, às 19 horas e tem apresentações no mesmo horário até o sábado, 20. O palco será a própria sede do grupo, na Granja Portugal, que abriga o Nóis há 16 anos. Os ingressos serão distribuídos gratuitamente 30 minutos antes de cada sessão.
O coletivo de teatro, que já trabalha há algum tempo com a temática da negritude e da periferia, começou a identificar questões no universo do feminino e a aproximar-se das temáticas, como explica a diretora do espetáculo, Edna Freire. "Se tornou cada vez mais necessário e urgente montar um espetáculo sobre mulheres." Essa urgência do tema também foi destacada pelo produtor do grupo Henrique Gonzaga: "debater sobre o machismo é cada vez mais necessário porque está virando cada vez mais perigoso".
"A gente fala sobre a mulher dentro da periferia", explica Edna, "desta mulher feminista, mesmo sem saber que é feminista". Buscando um paralelo com a favela de 1960 de Carolina Maria de Jesus, o grupo identifica opressões que ainda persistem nas periferias de 2018 e que atingem as mulheres de forma mais direta, como diz Henrique: "as ligações que a gente faz são mais de faces de conflito, de como aquela mulher cheia de complexidades, a Carolina, descrevia a fome da mesma maneira que ela precisava se levantar pra trabalhar e ter o que comer".
Com as atuações de Amanda Freire, Nayana Santos e Kelly Enne Saldanha, o espetáculo vai além de explicitar dores. Ele fala de resistência, exige a criação de novos caminhos e novos espaços de liberdade. "Despejadas, para mim, é um grito urgente que as mulheres do Nóis de Teatro podem estabelecer na Cidade nesse momento político nosso", resume Henrique, ecoando as palavras de Edna: "é um espetáculo de mulheres que procuram ser fortes, que procuram ser Fortaleza".
Espetáculo Despejadas
Quando: de hoje, 18, a sábado, 20, sempre às 19 horas
Onde: Sede do Grupo Nóis de Teatro (avenida José Tôrres, 1211 - Granja Portugal)
Quanto: Gratuito, com distribuição de ingressos 30 minutos antes da sessão