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Misturas de Martinho
Vida & Arte

Misturas de Martinho

| Retrospectiva | A série V&A 30 anos relembra hoje entrevista com Martinho da Vila publicada em 1991. E aproveita para falar sobre Bandeira da Fé, trabalho que o sambista acaba de lançar
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A primeira aparição do sambista Martinho da Vila nas páginas do Vida&Arte se deu em 9 de fevereiro de 1990, numa nota sobre um show que ele faria na Capital. Depois da estreia sutil, a primeira matéria sobre o artista foi publicada há exatos 27 anos, em 31 de outubro de 1991. Escrita pelo repórter Ricardo Jorge, ela dava conta do lançamento do disco Vai Meu Samba, Vai e falava sobre misturas musicais, variedades do samba e dificuldades de tocá-lo nas rádios. Quase três décadas depois, na 15ª matéria sobre Martinho no Vida&Arte, as pautas da época alcançam os dias atuais com o lançamento de Bandeira da Fé, álbum que marca os 80 anos do sambista.

 

De lá para cá - e mesmo muito antes -, Martinho nunca deixou de ser partidário do samba. Nas duas entrevistas, dedicou tempo a ponderar sobre o espaço dedicado ao ritmo na mídia. Em 1991, falou que para mudar o cenário "só mudando a cabeça dos produtores de rádio e dos formadores de opinião". "Se você me perguntar sobre a situação hoje, é a mesma resposta. De tempos em tempos vem uma nova onda e o samba é o primeiro que sai da mídia. Hoje, ela é quase totalmente sertaneja", avalia. O avanço junto ao público, no entanto, é comemorado. "Não dá pra ficar reclamando, porque o samba está sempre aí. Os meus shows, do Zeca Pagodinho, do Paulinho da Viola, estão sempre lotados. Naquele tempo era um pouco setorizado, havia o público desse tipo de música, desse artista. Agora misturou tudo. Eu faço show e tem de uma criança a uma velhinha de 90 anos sambando", ilustra.

 

Ainda traçando paralelos entre 1991 e 2018, um que chama atenção é o apreço de Martinho pela mistura. Na época, a faixa Eh, Brasil chamou atenção pela aproximação com o rap. "Não tenho grilos. Para mim foi o samba que deu no rap", afirmou o artista na entrevista passada. "Naquele tempo (a mistura) causava certo estranhamento. Hoje o rap é a música mais consumida no mundo", compara Martinho. Em Bandeira da Fé, o sambista divide os vocais de O Sonho Continua com o rapper Rappin' Hood, escrito pelos dois e Juju Ferreirah, filha de Martinho. A nova parceria se soma a outras da carreira que flertaram com o gênero. "Já fiz uma música com o Gabriel O Pensador, com o Criolo fiz um samba falado", lista.

 

Se há 27 anos Martinho chegou a comparar o rap ao samba-de-breque, tipo marcado por pausas, em 2018 ele celebra ter gravado uma faixa do subgênero pela primeira vez. "Só quem fez isso, mesmo, foi o Moreira da Silva (sambista carioca considerado o pai da vertente). Um samba-de-breque tem características: tem que ter uma parte que fica melhor musicada e outra não, tem que contar uma história", ensina. Questionado se pensa em outros lugares sonoros ainda inéditos para investir, Martinho aponta para o Nordeste. "Olha, eu já fiz um frevo, mas nunca fiz um maracatu. Quem sabe um dia?", insinua, aos risos. A conferir na 16ª matéria com Martinho nas páginas do V&A.

DUAS PERGUNTAS DE 1991

 

O POVO - Em Vai Meu Samba Vai encontramos novos elementos musicais, até alguns não muito comuns no samba. Isso é uma expansão natural do seu trabalho ou uma maneira de mostrar que o samba é intercambiável com outros gêneros e propostas musicais?

MARTINHO DA VILA - Tudo foi muito natural. Com o tempo avançamos e acrescentamos coisa novas no trabalho. Mas o samba pode ter outros sons que o enriqueçam, assim como qualquer outro tipo de música, inclusive folclórica.

 

OP - Mas sempre há alguns puristas. Estes estranharão, por exemplo, a mistura entre rap e gafieira na faixa Eh, Brasil...

MV - Geralmente isso vem de críticos mal-informados. Mas não tenho grilos. Para mim foi o samba que deu no rap, como acontece com o samba-de-breque do Moreira da Silva ou com certas canções antigas do Jair Rodrigues. Mas o que eu faço nessa faixa já é algo pós-rap.

 

Confira outras vezes que Martinho da Vila esteve nas páginas do Vida&Arte nesses 30 anos. 

 

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