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| 1º Temporada | Nova série original Netflix, Elite acerta no roteiro com muito drama, mistério e cenas que levam o público a refletir sobre cotas, tolerância e sociedade
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Juventudes transviadas 

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Segunda série espanhola produzida pela Netflix, Elite é a nova aposta para atrair o público jovem. Drama marcado pelos conflitos da juventude, com uma estrutura narrativa muito parecida com La Casa de Papel (fenômeno espanhol que conquistou o mundo), a série não faz uso da cronologia linear. Ao alternar entre cenas do passado e do presente, utiliza a investigação do assassinato de um personagem como gancho para acompanhar a vida dos estudantes da escola de elite Las Encinas, muito conceituada na Espanha, e levantar discussões importantes.

 

Elite ainda tenta fisgar o público incluindo em seu elenco alguns dos atores de La Casa de Papel. Rio (Miguel Herrán), Denver (Jaime Lorente) e Alison Parker (María Pedraza) agora são Christian, Nano e Marina. Com exceção de Jaime Lorente, os outros dois atores espanhóis assumem papéis bem diferentes, interpretando o garoto mais extrovertido e que tem certo apelo cômico e a filha rebelde de um milionário importante, que será a grande protagonista.

 

Com roteiro dos espanhóis Carlos Montero (O tempo entre costuras) e Darío Madrona (Génesis) e dirigida por Ramón Salazar (Paixão sem limites e Sou louco por você) e Dani de la Orden (Noite de verão em Barcelona), a série poderia ser apenas mais um drama adolescente no estilo Gossip Girl, mas, seguindo mais a pegada de 13 Reasons Why com uma sequência de momentos anteriores à morte de um dos personagens, desperta a curiosidade e instiga os espectadores a apertarem o play para mais um episódio.

Após o desabamento do colégio em que estudam, causado pelo trabalho mal feito da construtora do pai da protagonista, Christian, Samuel (Itzan Escamilla, de Las chicas del cable) e Nadia (Mina El Hammani, de El Príncipe - Amor e 

Corrupção) ingressam na Las Encinas com bolsas de estudo. O desenrolar do enredo mostra o envolvimento entre esses personagens e os colegas de classe que culmina com o assassinato.

 

Não se engane pelos clichês. A trama está repleta deles, mas isso não empobrece o roteiro. Com um clássico conflito de classes entre os alunos ricaços e os novatos de classe média baixa e personagens com perfis bastante convencionais - como é o caso de Guzmán (Miguel Bernardeau), o típico cafajeste encrenqueiro - a série se torna moderna na medida em que faz uma ousada abordagem de assuntos atuais do universo jovem.

 

Além de moderna, a série é envolvente. Já no primeiro episódio, o público é apresentado ao cenário do crime e logo nas primeiras cenas dá-se início ao interrogatório de um dos suspeitos. O uso estratégico da câmera durante os interrogatórios, em que os olhares dos personagens estão direcionados ao espectador, provoca quem assiste.

 

Os personagens são bem apresentados ao longo dos oito episódios, mas algumas relações não ficam muito claras a princípio, como a de Omar (Omar Ayuso) e Ander (Arón Piper), cuja interação inicial é confusa. É interessante a forma como a trama é construída, tendo os personagens e suas relações como objetos para tratar de questões relevantes. Religião, sexualidade, preconceito e drogas são algumas das temáticas apresentadas pela série e que, muito mais que o assassinato, parecem ser o foco.

 

O que de fato sustenta a série são os dilemas e as intrigas bem no estilo Rebelde. E, não fosse pela forma da cronologia empregada, estaria mais para uma história com pegada de telenovela mexicana mesmo. Apesar de o público descobrir quem foi o responsável pelo crime e como tudo aconteceu, o desfecho fica a desejar, mas deixa margem para uma segunda temporada.

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