Inspirado por programas de rádios, pela feira de Campina Grande (PB) e por seus tipos, o hoje poeta popular consagrado nacionalmente Jessier Quirino começava na infância a se apropriar de histórias, gestos e modos de falar que via e ouvia. Assim, firmou uma estética e um discurso de poesia bastante característicos, pautados em memória, pureza, bom humor e, claro, tradição popular. Jessier volta amanhã, 19, a Fortaleza com o espetáculo Mentira provisória - A verdade eleitoral, que aproveita o momento político brasileiro para fazer graça.

"A expressão do título foi uma faísca poética que me veio em cima do fazer político. Existe a medida provisória. Eu não procuro entrar ou me aprofundar no lado político partidário por causa das paixões exacerbadas, mas o que eu faço é uma brincadeira sobre como se mente 'provisoriamente' numa eleição", explica de início Jessier. "O político vai travestido de santinho, vai prometendo. Até as galinhas estão espertas. Se um político jogar um punhado de milho para uma galinha, ela não acredita", brinca, dando um gosto do que virá no espetáculo.

O poeta destaca que, além do bom-humor sertanejo, outros elementos compõem o espetáculo. "O palco tem um grande cenário que é por si um grande espetáculo. Além das 'mentiras' que eu vou contar, não vou esquecer os clássicos que são meu carro-chefe, as minhas poesias. As pessoas sempre ficam na expectativa. Eu me apresento sozinho e o roteiro é bem livre, eu posso mudá-lo", instiga.

Apresentar-se no Nordeste, para Jessier, é especial. "O Ceará, especificamente, é uma extensão do meu trabalho. Meu estilo é diferente dos causos do humor que o cearense costuma fazer, com suas famosas tiradas. Eu gosto de histórias e elementos verídicos e tenho recebido contribuições importantes do povo cearense", considera o poeta. "Quando eu vou ao Ceará, considero como se fosse ir a um laboratório, buscando elementos novos, anotando palavras novas. Sempre volto daí com um calhamaço de histórias que dão bons roteiros", celebra.

Falar de eleições e "nordestinidade" é, invariavelmente, lembrar dos ataques preconceituosos e criminosos que a região e seus habitantes sofrem nas redes sociais. Após o primeiro turno das eleições deste ano, quando viu-se que o candidato à presidência Fernando Haddad (PT) havia ficado em primeiro lugar no Nordeste, houve uma crescente nesse sentido. Questionado sobre o assunto, mas sem entrar em méritos específicos da disputa presidencial atual, Jessier lembra que chegou a receber olhares de desdém ao longo da carreira em eventos em outros estados. "Eu percebo esse olhar, mas entro com um elemento surpresa forte, saio de mim mesmo com gestos, falas, olho no olho da plateia. Se sou recebido daquela forma, no final, sempre sou aplaudido e abraçado como se fosse compadre. Tenho observado isso em todos os locais. No Sul, no Sudeste, é mais trabalhoso, mas eu procuro falar de temas universais numa linguagem universal".

Há, ainda, outra possibilidade de público: aquele saudosista. "São pessoas distantes de suas bases interioranas que têm ligação afetiva com os sertões e vêem na minha poesia um 'cineminha' de tudo que ele lembra", compara. Em Mentira Provisória, há espaço para todos. "Eu faço uma poesia descritiva que traduz paisagens do interior, a poesia saudosista, o causo engraçado do matuto, o causo político", elenca Jessier. "É curioso, porque, mesmo evitando fazer críticas partidárias, tem gente que pensa que eu tô dizendo histórias sobre agora, mas não. Eu levo causos de 1999, 1998, que parecem atualíssimos", considera. "Apesar da urna eletrônica e da internet substituindo o horário eleitoral do Brasil, ou seja, das coisas se modernizarem, o Brasil continua sendo terra de muro baixo, trazendo muita inspiração", ri-se.

Mentira Provisória - A Verdade eleitoral

Quando: amanhã, 19, às 20h30min

Onde: Teatro RioMar Fortaleza (rua Desembargador Lauro Nogueira, 1500 - Papicu)

Quanto: de R$ 70 (meia) a R$ 110 (inteira)

Mais info: www.teatroriomarfortaleza.com.br e
(85) 3066 2000