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Samba é lugar de mulher
Vida & Arte

Samba é lugar de mulher

| PROJETO |Reunindo cantoras, compositoras e musicistas numa roda exclusivamente feminina, o projeto mensal Samba Delas retorna amanhã ao Estoril para cantar o tema "Amor"
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Samba tem nome de mulher, sim senhor! E elas são muitas: de Tia Ciata a Clementina de Jesus, do "sorriso negro" de D. Ivone Lara à firmeza de Leci Brandão. De Jovelina Pérola Negra com suas "vadiagens" a Alcione, Beth Carvalho, Clara Nunes, Teresa Cristina, Mariene de Castro, Nilze Carvalho, dentre tantas outras, é inegável a participação feminina quando o assunto recai no gênero nascido em terras cariocas e disseminado mundo afora ao som de pandeiros, surdos, tamborins, cuícas e tantans.

 

Em meio a um universo ainda predominantemente masculino, rodas de samba formadas só por mulheres surgem a cada dia com mais consistência, reafirmando não só a capacidade e o talento das mesmas, como também levantando a bandeira da representatividade. "Nós somos mulheres de todas as cores/ De várias idades, de muitos amores", canta a compositora pernambucana Doralyce que, ao lado da carioca Silvia Duffrayer (grupo Samba Que Elas Querem), reativou a conhecida Mulheres (Martinho da Vila) para uma versão nos moldes feministas: "Sou mulher, sou dona do meu corpo e da minha vontade/ Fui eu que descobri prazer e liberdade/ Sou tudo que um dia eu sonhei pra mim...".

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Na capital cearense, terra boa de Iracema e José de Alencar, mas também de matriarcas do porte de Dona Mocinha e Pedrina de Deus (ambas falecidas), o samba ganha corpo com edições mensais e temáticas de um projeto batizado de Samba Delas. "Eu, como sambista, sentia falta da presença da mulher na roda de samba. Só no Dia da Mulher é que lembravam das mulheres - e eram chamadas as mesmas - mas, como eu conheço outras nesse circuito, vi que era um universo que precisava ser explorado", conta Michele Militão. Idealizadora e produtora do projeto, ela estreou a primeira edição do Samba Delas tendo como palco o tradicional Mercado dos Pinhões.

 

"No Dia Nacional do Samba (2 de dezembro), de quatro rodas que iam ter, em uma a gente colocou só mulheres. Então convidei a Marilene Sales para ser a madrinha, chamei a Jajá Aquino (Samba de Rosas), que também é super conhecedora do samba e do empoderamento feminino, e fizemos para homenagear as mulheres. Foi uma das rodas de mais sucesso, depois surgiu de fazer no Estoril", explica Michele. Micaela Gomes, cantora e compositora, é quem assina a direção musical.

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Além da veterana Marilene, a roda mantém uma banda-base formada por Clara Galvão (cavaco), Joyce Farias (violão), Clarisse Aires (flauta transversa), Kássia Oliveira e Flávia Soledade (percussão). O naipe de cantoras varia de acordo com a temática do mês, que já destacou "Samba de Terreiro", "Homenagem a D. Ivone Lara", "Samba Autoral" e "Samba da Bahia": Patrícia Trajano, Cris Malagueta, Ercília Lima, Luiza Nobel, Lorena Lyse, Patrícia Matos e Adna Oliveira são alguns nomes que já passaram pelas noites de quarta-feira, às 19 horas, dentro da programação semanal do Quarta Iracema (encabeçado pelo Instituto Iracema em parceria com a Setfor).

 

Quanto ao preconceito, Michele abre o debate. "Já ouvi dizerem: 'Ah, é samba só de mulheres, então eu não vou!'. Acaba sendo engraçado, dizem, mas não é. Nós somos questionadas sempre, mas esse momento já está existindo. O projeto, inclusive, já fez com que outras casas de samba da Cidade abrissem também espaço para as mulheres, como é o caso do Teresa & Jorge, Vila Camaleão, Floresta... É mais um sentimento de construção do natural, até porque é", enfatiza. "A gente escuta, às vezes não escuta... Mas a gente se sente feliz porque estamos seguras, é uma roda de samba bem feita porque não é só uma roda. É um show", completa Micaela.

 

Para Clarice Aires, que integra ainda os grupos Flor Amorosa (de chorinho) e, mais recentemente, o Damas Cortejam (de releituras percussivas), o preconceito perpassa ainda pelo fato de ser uma instrumentista. "Não acontece só em roda de samba, mas também de choro. Mas também porque ainda é um ambiente masculino, é meio fechado mesmo", diz. "Para a mulher entrar no samba é difícil, mas não há preconceito. O que eu vejo que acontece é que alguns músicos não dão tanta oportunidade para aquelas que só cantam", contrapõe Patrícia Trajano.

 

Quanto às próximas edições do projeto, "para este mês de outubro, o tema ainda está em aberto. Mas no dia 24 de novembro, iremos fazer no reduto do samba na Cidade (referindo-se ao Bar da Mocinha) porque fomos convidadas a participar do 1º Encontro Nacional de Rodas de Samba de Mulheres. É uma ideia que partiu da Dorina, que é uma sambista do Rio de Janeiro, e irá acontecer, simultaneamente, em dez capitais e em Buenos Aires", adianta.

 

Projeto Samba Delas canta "O Amor"

Quando: amanhã, 26, das 19h às 22 horas. A programação do Quarta Iracema tem início a partir das 17 horas

Onde: Estoril (Rua dos Tabajaras, 397 - Praia de Iracema)

Acesso gratuito

Outras informações: @sambadelas.fortaleza (FB)

 

 

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