Logo O POVO+
O ano de Cacá Diegues?
Vida & Arte

O ano de Cacá Diegues?

Apesar da pouca repercussão e sem ainda ter estreado, "O Grande Circo Místico" é uma escolha questionável para representar o Brasil no Oscar
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

Causou estranheza quando, no último dia 30, o cineasta Cacá Diegues foi escolhido como novo imortal da Academia Brasileira de Letras. Por mais que ele tenha lá seus livros publicados, ninguém se refere a ele como "o escritor Cacá Diegues". Mas a homenagem está lá, para a história.

 

Menos de duas semanas depois, e eis que o diretor de Bye Bye Brasil (1979) - uma obra-prima do cinema nacional - ressurge para outra homenagem questionável. Antes mesmo de estrear, o longa O Grande Circo Místico, sua nova obra, é o escolhido para representar o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira em 2019. Isso depois de o filme ter passado desapercebido na première internacional, no Festival de Cannes, e ter sido massacrado pela crítica nacional após a pré-estreia em Gramado.

 

Por mais rasas que sejam as justificativas, a escolha do Ministério da Cultura (MinC) pouco surpreendeu. Afinal, entre os 22 longas que disputavam a honraria, O Grande Circo Místico era o único que ainda não estreara - só chega aos cinemas em 15 de novembro. Aliás, estranhamente concorria com Não Devore meu Coração!, de Filipe Bragança, que debutou nos cinemas em novembro do ano passado. A última vez que um filme que ainda não estreara foi escolhido pelo MinC foi em 2016, quando o ministério recém-empossado por Temer escolheu o desastroso Pequeno Segredo - facilmente a pior escolha na história recente do cinema brasileiro e que só se entende sob o pretexto de revanchismo contra o favorito Aquarius de Kleber Mendonça Filho.

 

O Brasil não disputa o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira desde 1999, com Central do Brasil. Com perdão da futurologia, O Grande Circo Místico será cortado logo na primeira pré-lista - ou seja, serão 20 anos sem ao menos uma indicação. Ele não tem o apelo internacional de Benzinho, de Gustavo Pizzi, ou a força original de As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra - isso só para citar dois. O que a escolha reforça é esse sentimento, cada vez mais recorrente, de jogo de cartas marcadas. Ou algo mais justifica a pré-indicação de um filme que pouco repercutiu e nem mesmo estreou?

 

O que você achou desse conteúdo?