Coco Chanel dizia que a moda poderia ser encontrada no céu, nas ruas, na forma como indivíduos vivem e em como a sociedade se comporta. A fala apresentada pela fundadora de uma das maiores grifes do mundo, a Chanel, concorda que, para entender a moda, é preciso mergulhar nos horizontes artísticos. A estilista não continua entre nós (faleceu em 1971), mas seu discurso segue mais vivo do que nunca.
As mais recentes coleções de grifes com forte presença no streetwear (leia-se moda de rua) provam que a cena fashion caminha ao encontro da arte. A Vans, por exemplo, marca californiana de calçados e roupas no estilo skatista, lançou no último mês uma linha inspirada em obras do artista holandês Van Gogh. São mochilas, tênis, bonés, camisetas e outros acessórios que trazem trabalhos do pintor na estampa.
[SAIBAMAIS]
A coleção de outono 2018-2019 da Moschino, com direção criativa de Jeremy Scott, também buscou inspiração nas artes para as novidades da grife. O artista escolhido para completar as estampas da label italiana foi Carlo Mollino, arquiteto, designer e fotógrafo com forte presença em movimentos culturais na década de 1960.
As coleções citadas aqui são exemplos recentes de uma atualização que é visível na indústria fashion. A coordenadora da pós-graduação em moda da Universidade de Fortaleza, Vanessa Oliveira, defende a ideia de que a moda, desde seu surgimento, segue caminhando ao lado da arte. Para ela, graças à presença mais concreta do streetwear na cena atual, é possível ter uma visão ampla dessa união que sempre existiu, mas que agora ganha um novo fôlego nas grandes passarelas mundiais.
"Hoje podemos perceber que a moda de rua está caminhando com a alta-costura. Acompanhamos uma história inversa, já que, antigamente, o streetwear influenciava apenas as fast fashions. E ver como toda essa mudança está chegando acompanhada da arte é muito interessante para quem gosta e trabalha com moda", explica Vanessa.
A profissional ainda pontua que essa caminhada tem via de mão dupla. A moda também ocupa espaço na arte em situações como a apresentação do verão 2018 de Dolce & Gabbana, que escolheu a Metropolitan Opera de Nova York como cenário para o desfile da grife. A fachada do teatro contou com exposição de looks da coleção. Inclusive, a label também é um exemplo da união da alta-costura com o streetwear.
"Se a gente pensar em todo o contexto da moda a partir do seu surgimento, já encontramos influencia de movimentos artísticos. Temos o hippie, o punk, que são responsáveis também pelo surgimento do streetwear, e muitos outros. Está tudo muito ligado. Uma coisa sempre vai puxar a outra. Que bom que essa atualização da moda existe e está ainda mais visível hoje em dia", conta.
Há quem diga que na ligação entre a arte e a moda não existem limites, como também existem críticos que vão na contramão dessa afirmação. Um deles é Rony Meisler, co-fundador da marca brasileira Reserva. Em entrevista ao Estadão, o empresário diz que "roupa não é obra de arte", além de defender a ideia de que um comportamento não muito democrático pode ser desencadeado por quem é a favor dessa questão.
Entre as diversas opiniões formadas a respeito do tema, a verdade é que estamos presenciando uma atualização crescente na indústria da moda. E a arte é presença forte nesse movimento.