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O pagode de Tchekhov
Vida & Arte

O pagode de Tchekhov

| Campanha | Com estreia prevista para novembro, nova montagem do coletivo Os Pícaros Incorrigíveis encontra-se em campanha no Catarse. Texto original é do russo Anton Tchekhov
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Transportar para os palcos a figura marginal do Pícaro. Traduzir, no melhor e mais instigante escracho, o teatro de rua com suas performances e poesia únicas. Desde o ano de 2011, Fortaleza tornou-se mais carnavalesca do que de costume com a presença de um coletivo de artistas que convida "atores, performers, músicos e público a usufruirem e ocuparem o espaço público num encontro que mistura teatro, música, performance e festa". Os Pícaros Incorrigíveis, que já trouxeram à baila montagens como O Boteco do Seu Noel e Devorando Heróis: A Tragédia Segundo os Pícaros, debruçam-se agora na feitura de um novo espetáculo.

 

Tendo como ponto de partida uma das obras do dramaturgo russo Anton Tchekhov (1860-1904), A Gaivota, a trupe cearense irá estrear dentro em breve Pagode Russo. Para tal, encontra-se em plena atividade com uma campanha de financiamento coletivo via Catarse para a sua execução, cuja meta é atingir R$ 12 mil, referentes a figurino, cenário e material de divulgação (comunicação, foto e vídeo). Júnior Barreira, ator, produtor cultural e um dos integrantes do coletivo, descreve como "instigante" o desafio de adaptar uma montagem do século XIX para os dias atuais.

 

"Quando montamos Devorando Heróis (2016), trabalhamos com textos que tinham pelo menos 2 mil anos, mas os Pícaros têm essa capacidade antropofágica de devorar esses autores, essas obras, e de cruzar com o nosso discurso permeado por uma poética festiva, pensando esse lugar como o da rua como um potência política. A Gaivota, o texto em processo, fala de uma burguesia decadente, de teatro, de sonho, e é desse lugar onde estamos envolvidos na cidade de Fortaleza. O momento não poderia ser melhor para colocar Tchekhov na rua".

 

A ideia de pesquisar sobre o dramaturgo russo, de acordo com Júnior, partiu do diretor do coletivo, Murillo Ramos. "Logo que começamos a investigar a vida e obra de Tchekhov, conseguimos traçar diversas questões com a nossa situação política atual. Após passar por vários textos, A Gaivota foi despontando como um dos nossos locus de experimentação e decidimos tomar essa obra como base para o trabalho, mas com certeza iremos beber de outras obras de Tchekhov durante o processo", explicou o ator.

 

O que há em comum, a partir desses questionamentos, entre a obra e estética de Anton Tchekhov e o coletivo propriamente dito? "Primeiramente, Tchekhov é um pícaro incorrigível! Suas peças mesclam personagens irônicos e debochados, costumam falar de teatro e da vida, assim como o coletivo. O nosso próprio nome é fruto de um dos textos do russo: na obra As Três Irmãs, a expressão "pícaro incorrigível" foi pescada para batizar o grupo e não poderia ser mais adequado".

 

Na montagem original de A Gaivota, o texto foi concebido por Tchekhov como uma comédia, sendo posteriormente interpretada na linha do drama, da tragédia. Em cena, o espetáculo gira em torno de um jovem escritor em permanente conflito interior. A campanha Pagode Russo - Catarse, por sua vez, teve seu início com "leituras traumáticas" (no Bar do Assis, Benfica, e no Lions Bar, Centro) e, ao longo do semestre, outras iniciativas ainda estão sendo programadas. "Estamos pensando uma série de ações para alimentar a nossa campanha e convidamos todos a participar. Estamos em temporada com Devorando Heróis em dois equipamentos da Rede Cuca - Barra do Ceará (dia 17/8) e Mondubim (dia 24/8). Hoje, 15, realizaremos o tradicional aniversário do nosso diretor, no Bar do Animaw (av. Senador Pompeu, no Benfica), às 16h20min, com uma festa aberta e passaremos o chapéu, voltando a arrecadação da campanha. Por fim, no dia 7 de setembro, estaremos com o mesmo espetáculo no Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga", adiantou Júnior.

 

Segundo o ator, o grupo se norteia por certa estética da subversão. "É a poética do gauche, do esquerdo, do olhar o mundo com estranheza, dúvida e embriaguez. E essa embriaguez não é somente etílica, é a que tira a noção de que as coisas são lúcidas, de que o mundo é lúcido. A nossa sociedade precisa, em alguns momentos, de uma 'não-lucidez' para encarar as coisas..", defende. Júnior, por sua vez, pondera: "Isso não é se esquivar da realidade, é combater a seriedade e a caretice da sociedade, das coisas, da vida, da arte em si... É uma poética que está sempre em trânsito, parte também dos estilos de vida dos componentes do grupo, como vivenciam a rua e processos de partilha de vida que reverberam para a criação".

 

O que esperar, então, desse Pagode Russo? "Um pós-Carnaval. A sensação de uma Quarta-Feira de Cinzas, a ressaca, o fim de festa... A fantasia rota, o corpo cansado, suado.. E como esses corpos cansados ainda se colocam em jogo, para festa diante de tanta crise? Como seguir em frente? Como continuar? Por que continuar? O Pagode Russo propõe um grande encontro que perpassa a seresta, o bolero, new age, rap, etc., procurando tratar dessas crises como grupo, como trabalhadores da arte, como artistas, como cidadãos... Como seguir em frente depois da festa?!". Evoé!

 

Campanha Catarse - Pagode Russo

Para colaborar com o novo espetáculo do coletivo cearense Os Pícaros Incorrigíveis: https://bit.ly/2B8Qbvr

Valor da meta: R$ 12 mil

Info: https://bit.ly/2PdidZU

 

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