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O contrário da fábula
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O contrário da fábula

| Cinema cearense | Selecionado para o Festival de Cinema de Brasília, curta-metragem da cearense Bárbara Cabeça foi apresentado no Cine Ceará
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Por volta da metade de Boca de Loba, curta cearense dirigido pela realizadora Bárbara Cabeça, uma sequência específica ajuda a resumir o filme em si: de livro em punho, uma mulher lê uma história sobre outra mulher para um grupo de outras mulheres, que vão se chegando perto dela, se aconchegando entre si, ouvidos atentos ao que é contado.

 

A história narrada nessa altura é continuação daquela que, em off, alinhava Boca de Loba desde o seu início: a sobre "uma velha que vive num lugar oculto que todos sabem, mas que poucos já viram" - retirada, por sua vez, do livro Mulheres Que Correm Com Os Lobos, de Clarissa Pinkola.

 

É forte no filme o caráter de conto fantástico, mitologia, até fábula. Não por acaso, ele foi exibido no último dia 7, na Olhar do Ceará (mostra do Cine Ceará), numa sessão proposta pela curadoria da Associação de Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine) intitulada "Experimentar o artifício". O grupo explica que os curtas selecionados "expandem os limites do real na medida em que estabelecem uma relação mais direta e inventiva com o artifício".

 

Apesar de ter elementos que o aproximam da noção fabular, como a oralidade e o animalesco, Boca de Loba soa na verdade como uma anti-fábula, muito por conta da construção de imagens de uma Fortaleza noturna, vazia, suspensa, de ruas e bueiros. O caráter selvagem advém, enfim, de uma aproximação desse artifício com o real. A sinopse do filme ajuda a entender: "Pressões assediadoras das ruas. E um grupo de mulheres procura pela invocação de um espírito selvagem urbano". Apesar de "artificial", Boca de Loba estabelece relação plena com movimentos, situações e sensações bastante palpáveis.

 

O filme será, em breve, exibido no Fincar (Festival Internacional de Cinema de Realizadoras) e na 51ª edição do Festival de Brasília de Cinema Brasileiro.

 

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