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Um Salão para chamar de seu
Vida & Arte

Um Salão para chamar de seu

Edição Impressa
Tipo Notícia

Seu de quem? Dos artistas? Dos curadores? Da cidade?

 

Por ser um dos mais tradicionais do Brasil e com tantos anos de história, o Salão de Abril também está sujeito a críticas, mas onde elas estão? Na edição deste ano, após o 68º Salão de Abril Sequestrado, o 69º Salão de Abril, que se diz modificador, ainda exercita antigos formatos e práticas que suscitam questionamentos.

 

Quem levanta essas questões é um grupo de estudo sobre as exposições de arte no Ceará, que vem pesquisando há mais de um ano sobre os salões que já existiram no nosso Estado, seus movimentos, suas edições, suas premiações etc. Em conversas de pessoas deste grupo com outras do circuito de artes, percebemos muita insatisfação com relação ao Salão de Abril deste ano: o que infelizmente fica apenas nas conversas pessoais informais, no máximo vai para as redes sociais, mas que não é aberto ao debate público, como muito bem fazia o artista Estrigas, que construiu uma crítica em artigos de jornais, livros etc. Quem, hoje, ocupa esse lugar de crítica nas artes visuais em Fortaleza, no Ceará? Quais os agentes envolvidos nesse debate? Qual a importância de tornar o debate público, considerando que público é o Salão?

 

Nosso Estado tem uma história interessante na criação de Salões de Arte. Foram muitos e percebemos o quanto é difícil manter tais iniciativas no circuito. Portanto, reconhecemos a importância do Salão de Abril e sua sobrevivência. Alguns reconhecem isso, mas talvez a "comunidade artística" precise estar mais envolvida e articulada no campo das artes visuais em Fortaleza. Imaginávamos que o Salão de Abril Sequestrado daria um start nesse movimento do circuito de arte de se engajar, de estar junto e de fazer coletivamente pelas artes. O modelo tradicional de salão precisa se transformar, mas quem está propondo isso para o Salão de Abril?

 

Após a potente efetivação do Sequestrado e diante da atropelada realização do 69º Salão de Abril, o que mudou? Houve reflexão sobre o que se conquistou no Salão Sequestrado para a nova edição? Como esta edição de 2018, que se disse especial, comemorativa aos 75 anos do Salão de Abril, modificou seu formato tradicional?

 

No contexto de uma cidade extremamente carente de incentivos à produção cultural e à formação em arte, o sequestro do Salão de Abril foi motivado pela negligência do governo municipal frente também ao Salão. Os desdobramentos desse sequestro pelos artistas, curadores, galeristas, pesquisadores das artes visuais de Fortaleza, sem contundente reação da prefeitura, reconfigurou a ordem das forças que travaram essa batalha. A rede dos profissionais das artes se uniu em prol do reconhecimento da força do Salão de Abril para a cidade. De algum modo, essa rede estabeleceu o governo omisso como seu opositor e promoveu uma estratégia comunitária de resistência, encontrando meios próprios para promover o evento.

 

Essa energia de luta se constituiu na tentativa de aproximação entre os pares, por meio de um processo democrático que escolheu não estabelecer seleções por vias estéticas e se fez inclusivo; retomando vínculos que se haviam rompido por outros movimentos de seleção em edições anteriores do Salão, permitindo que atores, antes considerados fora do circuito, pudessem se inserir como parte do processo.

 

Nos parece que a força dessa articulação do Sequestrado diluiu-se à medida que as discussões limitaram-se ao âmbito das conversas pessoais e redes sociais. É preciso abrir o debate, torná-lo público para ampliar o acesso e considerar diferentes pontos de vista, contribuindo para o fortalecimento da rede. O próprio Fórum de Artes Visuais de Fortaleza, criado com o Salão Sequestrado, permanece atuando?

 

A diluição da força de articulação se mostra, como efeito, na baixa participação diante da convocatória da prefeitura para consulta pública do edital do 69º Salão de Abril. Isso aponta para o sintoma de descrença frente às ações de políticas públicas do município e confirma a falta de articulação da "comunidade artística" nesse momento, levando a pensar que essa força de resistência talvez tenha se rompido quando o Salão foi devolvido à Secultfor e deixa de ser dos artistas, dos pesquisadores, do circuito de artes, e volta a ser da Prefeitura de Fortaleza.

 

Grupo de estudo Open Box, da Galeria Multiarte

Ana Carolina Frota

Anderson Sousa

Beatriz Castelo

Carolina Vieira

Delano Pessoa

Emi Teixeira

Luciana Eloy

Thadeu Dias

 

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