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Sabor que preserva história
Vida & Arte

Sabor que preserva história

Edição Impressa
Tipo Notícia

 

Já em Fortaleza, no sítio Pici, à época rodeado por pés de figueira e abundante em cajueirais nativos, Rachel foi apresentada à cajuína. A fabricação da bebida, que parece simples, exige procedimentos cuidadosos e paciência. A escolha pelos cajus mais doces e maduros mobilizava as mulheres do antigo sítio para uma missão a ser realizada antes mesmo do sol nascer: apanhar os melhores frutos antes que os passarinhos os bicassem. Colhida a matéria prima, o líquido obtido com a prensa do fruto passa por seguidas filtragens em uma máquina artesanal,até tornar-se límpido e transparente. Engarrafado e pasteurizado, o fermentado ganha validade de mais de dois anos.

 

De cor amarelo-âmbar e sabor peculiar, a cajuína é uma bebida típica das mesas sertanejas. Sua invenção é atribuída a Rodolfo Teófilo, ilustre farmacêutico baiano e cearense por adoção. A receita do seu então “vinho de caju” circulou pelo Ceará no início do século XX e tão logo ganhou a cozinha de Dona Clotilde, mãe da escritora Rachel de Queiroz.

 

“A dieta do nordestino é rica em açúcar”, dizia Rachel. Por isso, enfim produzida a cajuína, dava-se ao bagaço do caju diferentes usos: doces, compotas, cristalizados, rapaduras... Estes e outros quitutes dos quais a mesa do Não me deixes transborda fartura. Na fazenda de Quixadá, a tradição da cajuína foi levada a cabo por Maria Luiza, irmã caçula da escritora. Desde então, essa bebida “pura, sem mistura”, continua a ser servida aos visitantes “com o mesmo orgulho de quem serve champanhe”.

 

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