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Agarradinho, bem juntinho, coladinho
Vida & Arte

Agarradinho, bem juntinho, coladinho

Nascida nas periferias da Bahia, a swingueira se espalhou pelo Nordeste. Em Fortaleza, o movimento dá voz e ritmo a uma geração livre de moralismos e preconceitos
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Na história inspirada pela cultura japonesa, os ninjas de duas famílias - uma de coração bom, outra de força física e agilidade - se enfrentam até a morte em busca do poder absoluto. A narrativa de sangue evolui até a formação de inesperada aliança entre os dois lados, e os atos finais envolvem a luta contra um imperador maligno, gueixas infiltradas e muita swingueira. Aquela swingueira bem baiana de Léo Santana, Igor Kannário e Chiclete Ferreira. As tradições orientais se rendendo ao rebolado e ao sobe-desce.

 

Este é o mote da apresentação do grupo Uz Patifez do Swing, vencedor das últimas edições dos campeonatos cearense e municipal de swingueira, em 2017. "Já participamos de quase 20 festivais em todo o Ceará e seguimos invictos", conta Isaac Nascimento, ou Isaac Charada, como é conhecido nos circuitos de competição. "A ideia do Japão nasceu quando eu tava assistindo a um filme do G.I. Joe sobre um cara bastardo que é treinado pelo mestre e acaba ganhando do ninja que já vivia lá dentro", revela. O grupo de 45 pessoas - entre dançarinos e equipe de apoio - investe cerca de 7 mil reais na concepção e realização de cada montagem.

[SAIBAMAIS] 

"A grana a gente se esforça pra conseguir. O líder do grupo e eu temos nosso trabalho e ajudamos como podemos. Também fazemos rifas e gincanas. Sempre damos um jeito", explica Charada. A quantia arrecadada é investida em figurino, estrutura, efeitos especiais, alimentação e locomoção, na Capital e no interior. Os dançarinos se reúnem duas vezes por semana para os ensaios, geralmente no Parque Bisão, na Avenida Beira Mar. No período dos campeonatos, os ensaios são diários. E os esforços valem a pena? "A gente faz isso pra se encontrar, jogar o estresse fora".

 

O boom da swingueira em Fortaleza aconteceu no início dos anos 2000, rescaldo do sucesso da axé music na década anterior e reflexo do ritmo que Xanddy e seu Harmonia do Samba haviam estabelecido no Carnaval de 1999. Por aqui, barracas da Praia do Futuro começaram a promover apresentações de grupos musicais e de dança, popularizando o gênero entre as famílias de classe média e alta que frequentavam o local para o almoço de domingo. Quando a febre começou a baixar, na virada da década, substituída por um novo estilo de sertanejo que recobrava sua força, a swingueira se recolheu de volta ao lugar de origem: o coração da periferia.

 

"Vários amigos se afastaram do mundo do crime e das drogas para estar aqui dançando com a gente. Acho isso massa. Se a maioria dos jovens tivesse o mesmo pensamento, se dançassem pelo menos três horas por dia, não estariam nessa situação", reflete Charada, que conheceu a swingueira em 2008, acompanhando conhecidos de sua mãe que tocavam em uma barraca de praia. Encantado pela música e pelos movimentos coreografados, decidiu criar seu próprio grupo, Uz Quebra Fácil, reunindo quatro amigos do Papicu.

 

O nome Uz Patifez do Swing veio depois, quando o grupo cresceu e começou a encarar com seriedade a participação em festivais e campeonatos. "Além do lado social, tem as amizades. Às vezes a gente tá em casa, não tem com quem conversar, o que fazer. É melhor estar nos ensaios. Mantemos o convívio, temos um momento de oração. É tipo uma válvula de escape", conta.

 

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