Uma das protagonistas da atual geração de artistas brasileiros cuja existência quebra padrões de gênero e sexualidade, a paulista Liniker Barros foca nas próprias vivências para compor. “Às vezes me perguntam quando vou fazer músicas politizadas ou de protesto, mas tem algo maior do que uma mulher trans e negra cantando o amor? É totalmente político em dias de tanto ódio”, afirma, convicta, em entrevista ao O POVO.
Acompanhada dos seus Caramelows, a cantora se apresenta hoje no palco Rachel de Queiroz, às 22 horas, num dos pontos altos do segundo dia de programação do Festival Vida&Arte (FVA). O grupo apresenta a turnê de despedida do álbum Remonta (2016), sucessor do EP Cru (2015). Além do show, ela também participa de entrevista aberta, às 14 horas, na Estação Demócrito Dummar.
Liniker celebra o fato de o maior festival multicultural do País ter na linha de frente artistas como Elza Soares e Milton Nascimento. “É uma honra dividir a programação com nomes como estes, que representam tanto e de diferentes maneiras. É o que falo de ocupar os espaços, de estar presente”, assegura, dando enfoque ao protagonismo de cantores negros no line-up. “A música preta brasileira tem representantes incríveis. Tá aí a programação do Festival Vida&Arte para mostrar um pouquinho”, completa.
Além das canções já conhecidas (entre elas Zero, Caeu e Louise du Brésil), o repertório desta noite inclui Lava, primeira música divulgada do próximo disco da artista, ainda sem data de lançamento. “Com certeza o novo trabalho vai chegar mais nessa linha de Lava. É um novo momento, temos novas referências, novas experiências”, planeja, ao lado de Rafael Barone (baixo), Péricles Zuanon (bateria), William Zaharanski (guitarra) e Renata Éssis (backing vocal), O novo álbum, adianta, deve passear por som mais orgânico, num flerte com reggae, o dub, cheio de influências de raízes africanas.
Desde que despontou, no fim de 2015, a cantora circulou o País e fez viagens mundo afora. Este ano já realizou a Spring Tour pela Europa (passando por oito cidades de sete países) e, ainda em 2018, eles têm mais de 40 apresentações – por 22 países – fechadas. “Estamos fazendo muitos shows no exterior e, mesmo em lugares que não falam português, existe uma troca. É muito maravilhoso ver e sentir a sua música chegando nas pessoas”.
A possibilidade de se apresentar em festivais, aponta a cantora, ajuda a ampliar plateias e instiga a banda a se apresentar cada vez mais de peito aberto. “A gente sempre sobe no palco de forma muito sincera. O público sente e acaba rolando uma conexão”.
Extrapolando os limites da música, a compositora tem se destacado em campanhas publicitárias e, especialmente em junho (mês da diversidade), pode ser vista em muitas campanhas e plataformas. A artista fez também participação na série 3%, da Netflix. “É importante ocuparmos tanto o entretenimento quanto o mercado publicitário. Cada convite é visto caso a caso, já que existe muito oportunismo nesse meio também. A gente acaba ficando exposta”.
Liniker festeja a ascensão de outras artistas trans e cita Linn da Quebrada e As Bahias e a Cozinha Mineira. “Não sou uma única voz. Existem muitas pessoas sendo vozes. Somos várias pessoas com discursos fortes”. Na volta a Fortaleza, espera encontrar seu público cativo e também desbravar novos. “É um prazer poder dialogar e trocar com as pessoas, somos sempre impactadas de alguma maneira”.
Liniker no FVA
Quando: hoje, 22, às 14 horas (entrevista aberta), e às 22 horas (show).
Onde: Centro de Eventos do Ceará: Estação Demócrito Rocha (entrevista aberta) e Palco Rachel de Queiroz (show).Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) - válido para toda a programação por dia.
Ingressos à vendas pelo site: festivalvidaearte.com.br e na bilheteria do Centro de Eventos do Ceará (Av. Washington Soares, 999). Os espaços são sujeitos à lotação.Outras informações e programação completa: festivalvidaearte.com.br