Não conheço nenhum outro autor contemporâneo que retrate as indignidades e imperfeições humanas com tanta habilidade em uma escrita tão elegante. Philip Roth é único, e falo dele no presente porque o fim da vida não destrói a existência dos grandes homens.
A ousadia de transformar em ficção os temas da comunidade judaica para além dos estereótipos e expectativas fez de Roth notável e singular.
A ele, autor judeu, o personagem judeu era mais um humano, complexo em suas obsessões e perversidades, por vezes fraco e ambíguo. Roth rompeu com a aura intocável dos judeus, trouxe-os ao patamar dos demais sem levar em conta qualquer peso histórico ou religioso. Esmiuçou seus personagens em tragédias morais, sentimentais e sexuais. Eram humanos, portanto. Falhos como toda a gente feita de pele e osso. Confusos e trôpegos no percurso infindável de autoconhecimento.
A escrita limpa, direta e objetiva de Roth nos mostra um escritor com absoluto domínio de vocabulário, narrativa e técnica. Ele nos traz o complexo emaranhado humano em uma experiência absolutamente prazerosa de leitura. Findaram-se os dias de Roth, mas o seu legado permanece.
MARINA SOLON
Editora-assistente da Editora Dummar