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Conhecida pelo forte engajamento político-social, Letícia Sabatella afirma, em entrevista ao O POVO, não ser esse um foco aparente de Caravana Tonteria, seu projeto musical. Para a atriz, entretanto, o show acaba evocando questões. “É a voz de uma mulher cercada de homens depois de gerações e gerações de mulheres que não tiveram acesso a um microfone, que tiveram atuação restrita ao espaço doméstico. Isso já é um posicionamento”, pondera. Ainda inédito na Capital, o show da artista será apresentado no Festival Vida&Arte, no dia 22 de junho, às 21h30min.
“No palco, uma mulher que não busca o corretinho, o bem comportado, o bonito estético só por ser bonito”, avança a atriz. “É uma voz que tem sede de justiça, fome de igualdade”, arremata. Ao lado do marido, o também ator Fernando Alves Pinto (violão, serrote, trompete), Letícia divide o palco com os músicos Paulo Braga (piano) e Zéli Silva (contra-baixo). Em apresentação com intervenções teatrais, ela apresenta canções de sua autoria, além de clássicos de nomes como Chico Buarque e Garcia Lorca.
A obra surgiu no contexto de comemoração dos 25 anos de carreira da atriz, que acumula mais de 30 trabalhos na TV e outros 20 no cinema.Crescida nas coxias do Teatro Guaíra, em Curitiba, Letícia tem afinidade com a dança e o canto desde criança, além de ouvir desde cedo a mãe e a avó cantar.
“A vida inteira fui muito musicalizada. Sou de uma família de mulheres que cantam. Minha avó costurava, cozinhava cantando. Minha mãe arrumava a casa e dava aula cantando.
Sempre foi uma coisa muito natural para mim”, conta. A artista explica que o impulso de compor também acompanha a sua trajetória. “É como um hobby, um descanso. Queria ter mais tempo, mas o trabalho com atriz, as novelas, séries tomam bastante tempo”.
A montagem, dirigida por Arrigo Barnabé, traz para os holofotes um paralelo entre o viés cômico e o tom dramático.
“A música é uma linguagem onipotente, tem o trágico e cômico, o drama e a leveza. Nós dois somos atores com tendências musicais e a gente leva essa dramaticidade para o show”, conta Fernando, destacando que o encontro (de trabalho, de amor) com Letícia se deu muito pelo desejo em comum dos dois de unir as linguagens artísticas.
A dramaturgia construída organicamente no palco revela ao público o jogo de cena entre Fernando e Letícia. “Naturalmente tem um jogo, a gente acaba fazendo um improviso, duas figuras de clown. Eu como o “branco”, que é o clown mais mandão, rabugento, e o Nando é o “Augusto”, mais atrapalhado. Tem também o jogo de masculino e feminino”, explica a atriz.
Esteticamente, porém, Caravana Tonteria não lembra em nada a palhaçaria e, sim, tem estilo cabaré. “A gente tem nesse ambiente de cabaré o teatro, a música, a dança. Acho estranho elas serem tão separadas e o cabaré junta isso de uma forma atraente”, aponta Fernando.
O nome do projeto vem de um tango chamado Tonteria, (“bobagem”, em português) de autoria de Letícia. A melodia, explica a artista, nasceu por acaso nessas experimentações que surgem sem um gênero musical definido. Já a letra nasceu durante viagem feita por ela a Buenos Aires, quando se impressionou por um artista de rua. “Ele é conhecido como o El Loco De Los Vidrios, um superator que fazia um monólogo incrível enquanto deitava em cacos de vidro sem se cortar”, detalha. Imbuída dessa força artística, a artista chega, com sua caravana, para deixar marcas no público fortalezense.
Caravana Tonteria no FVA
Quando: dia 22 de junho, às 21h30min
Quanto: R$20 (inteira) R$10 (meia) - válido para toda a programação do dia no evento (o acesso às atrações está sujeito à lotação dos espaços onde elas se apresentarão)
Onde: Centro de Eventos do Ceará (av. Washington Soares, 999)
Ingressos à venda no site: www.festivalvidaearte.com.br e na portaria do Jornal O POVO (Av. Aguanambi, 282 - José Bonifácio)
Programação completa: www.festivalvidaearte.com.br
V&A VIU
Um despretensioso tango na El Caminito, a colorida rua-museu de Buenos Aires, um passeio por burlescos cabarés franceses ou mesmo um encontro entre amigos trôpegos já no fim da noite paulistana. A obra cênica Caravana Tonteria apresenta ao público a consistente pluralidade de linguagens artísticas maturada ao longo dos 25 anos de carreira de Letícia Sabatella.
No palco, o encontro é singular: a cumplicidade entre os artistas se desdobra em um show cheio de risadas, conversas e possibilidades. A interpretação performática de Geni e o Zepelim, composição de Chico Buarque, é um dos momentos mais comemorados pelo público. A atriz engrandece a cantora.
Assisti ao espetáculo na abertura da série Diálogos Musicais, promovida pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos em São Paulo em novembro de 2015. Conselheira da organização promotora de projetos sociais, Letícia Sabatella faz de sua presença no palco um ato político e imprime força em suas falas. O resultado instigante chega agora à Capital em contexto sociopolítico ainda mais crítico. Vale conferir.
Bruna Forte, repórter