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Protagonismo da juventude indígena para contar a própria história
Vida & Arte

Protagonismo da juventude indígena para contar a própria história

DIA DO ÍNDIO | Das universidade aos centros culturais: o protagonismo dos povos indígenas para contar a própria história
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O olhar eurocêntrico domina, há mais de cinco séculos, o jeito brasileiro de contar a história do nosso povo nativo. Na contramão desse modus operandi colonizador, porém, ações afirmativas de indígenas cearenses têm conseguido destaque em instituições (universidades, centros culturais) da Capital. Nessa véspera do Dia do índio, o Vida&Arte repercute a fala de representantes de diferentes povos, que destacam a importância de ampliar vozes e quebrar preconceitos.


“Estarmos nos centros culturais ajuda a tirar o indígena da posição de ‘tutelado’ do ponto de vista artístico. Nós podemos, enfim, mostrar nossa própria cultura”, assegura o artista plástico Benício Pitaguary. Na última semana, ele, que é também articulador do Museu Indígena Pitaguary, ministrou oficina sobre pintura corporal na Caixa Cultural. Para Benício, o momento é de firmar protagonismos. “Estamos declarando nossa existência e resistência, mostrando que somos artistas natos e, acima de tudo, que não precisamos de ninguém para repassar isso, porque nós somos capazes de fazê-lo”, pondera.


Além da Caixa Cultural, que segue com ações alusivas ao Dia do índio, está em cartaz na escola Porto Iracema das Artes a Exposição da Juventude Indígena do Ceará. A mostra reúne imagens produzidas por 17 jovens dos povos Tapeba, Tremembé, Jenipapo Kanindé, Tabajara, Kanindé e Pitaguary. A programação tem visitação gratuita e segue aberta até o dia 11 de maio.


Para a estudante Aruena Tabajara, uma das fotógrafas da mostra, seus pares estão cada vez mais conscientes da importância indígena para a cultura brasileira. Ela, porém, aponta entraves, como o preconceito vindo de não-indígenas. “Muitos (índios) têm vergonha dos colegas, principalmente os que estudam em escolas que não transmitem o conhecimento de nossa cultura”, avalia, reforçando ser a educação de base fundamental na quebra de paradigmas. Segundo Aruena, ações como a exposição no Porto ajudam a eliminar a “vergonha de fala” de muitos jovens.

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Também compondo a mostra, Suerdo Kanindé avalia as implicações políticas do empoderamento indígena. “Hoje, na nossa comunidade, temos um grupo de jovens que tem o objetivo de formar futuras lideranças . Estamos ainda mais preocupados com a preservação da nossa cultura”, comemora.


“A ocupação desses espaços de produção de conhecimento é uma estratégia dos próprios povos indígenas para dar visibilidade para as nossas lutas, fortalecer os debates junto à sociedade e levar conhecimento para a população em massa”, analisa Weibe Tapeba, advogado e assessor da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará. “Os povos daqui têm toda uma diversidade étnica e cultural e muita gente não sabe disso”, completa.


Weibe, que é também vereador em Caucaia, foi um dos convidados da II Semana dos Povos Indígenas na Universidade Federal no Ceará, cuja programação segue até próximo dia 23. Ele celebra que mais material histórico e cultural seja produzido pelos próprios índios. “Esse protagonismo da juventude, que agora se apropria da linguagem audiovisual, cria uma conteúdo que transparece mais naturalidade e sensibilidade sobre o
nosso cotidiano”.


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