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O avesso do popular: "Lado B" de Belchior
Vida & Arte

O avesso do popular: "Lado B" de Belchior

| CARREIRA | De 1974 a 2002, Belchior construiu uma discografia pautada por sucessos, álbuns irregulares e muitas regravações. Os jornalistas Marcos Sampaio e Camila Holanda analisam o que conquistou o grande público e o que ainda pode ser descoberto na obra do compositor
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DESDE QUE BELCHIOR SAIU DE CENA, há um ano, grande parte das homenagens reverberam o repertório que ficou consagrado em sua voz anasalada e na de seus intérpretes. Em mesas de bares, shows, blocos de Carnaval e pelas ruas, o que mais se ouve são os celebrados versos do “lado A” do sobralense. As músicas mais cantadas talvez sejam as que estão no disco Alucinação, segundo álbum de estúdio de Belchior, lançado em 1976, pela Polygram (atual Universal Music). Apenas um rapaz latino-americano, Sujeito de Sorte, Não leve flores, A palo seco e Fotografia 3x4 são algumas das músicas evocadas de forma recorrente pelos fãs.

[SAIBAMAIS]
Mas Belchior é muito além de seus refrões mais famosos. Com menos de 20 discos lançados (muitos deles revisitando a própria obra em regravações e coletâneas), o compositor deixou um punhado de músicas esquecidas e talvez tão pujantes e pulsantes quanto os famosos versos de seu celebrado Coração Selvagem. É certo que os grandes hits o afirmaram no cenário nacional e abriram caminhos para que o cearense chegasse a vender 30 mil cópias do álbum Alucinação em apenas um mês, à época da estreia.
 

Mas este “lado B” de Belchior é a grande fatia de sua obra. Estas músicas menos conhecidas convergem, inclusive, com os caminhos que o rapaz latino-americano tomou, vivendo seus últimos 10 anos em completa imersão, fazendo de sua saída de cena a última grande obra.
 

Bulindo na discografia de Belchior, pode-se encontrar o CD Bahiuno como uma das mais robustas destas raridades pouco cultuadas. Lançado em 1993 pela Movieplay, este foi o último disco autoral de Bel, entregando 16 músicas para serem desbravadas.
 

O disco aborda muitos dos temas que percorrem a obra do artista, com críticas sociais, ressaltando a relação do autor com o lugar de onde veio, além de crônicas da vida comum e do amor. “Ah! metrópole violenta que extermina os miseráveis/negros párias, teus meninos!/Mais uma estação no inferno, Babilônia, Dante eterno!/há Minas? Outros destinos?”, diz a canção que dá titulo ao álbum, assinada em uma parceria com Francisco Casaverde. Outras composições fortalecem o CD, como Lamento do marginal bem-sucedido, Arte final, Quinhentos anos de que?, Amor e Crime e Notícia da terra civilizada.
 

Objeto Direto, de 1980, é o sexto disco gravado por Belchior e também contém muito deste “lado B”. Uma das músicas presentes no álbum é Aguapé, com participação de Fagner. Esta é a segunda gravação da música. Em 1970, o disco coletivo intitulado Soro lançou uma primeira versão da música, também cantada pela dupla de parceiros.
 

Belchior também chegou a fazer as vezes de intérprete, indo no contra-fluxo de sua própria obra (sempre autoral e com poucos parceiros). No disco Vício Elegante (GPA Music), de 1996, ele percorre repertório de outros autores, como Esquadros (Adriana Calcanhotto), Aliás (Djavan) e O Tolo (Erasmo Carlos e Roberto Carlos).
 

Entre “lado A” e “lado B”, o sobralense do mundo também costurou a vida pessoal em seu nomadismo. E nos deixou com algumas peças importantes para compreendermos melhor a nossa própria vida. 

 

SONS & LETRAS
 

MOTE E GLOSA
 

LP de estreia com as primeiras versões de Todo Sujo de Batom, A Palo Seco e Na Hora do Almoço. A voz crua derrama emoção.
 

ALUCINAÇÃO
 

Ponto alto da discografia de Belchior. Foi apontado como o disco mais importante da música cearense em eleição feita pelo O POVO.
 

TRÊS TONS
 

De 2016, a caixa lançada pela Universal Music reúne os discos Alucinação (1976), Melodrama (1987) e Elogio da Loucura (1988)
 

TUDO OUTRA VEZ
 

Lançado pela Warner, este novo box reúne seis discos, incluindo o conceitual Objeto direto (1980) e o raro Paraíso (1982).
 

ACÚSTICO
 

Uma das muitas releituras. Acompanhado do violão de Gilvan de Oliveira, as inéditas são Aparências e Doce Mistério da Vida.
 

DE PRIMEIRA GRANDEZA
 

Tocante tributo gravado por Amelinha. A música que dá nome ao disco é uma antiga sugestão de Bel para ela.
 

BIOGRAFIA
 

Escrita por Jotabê Medeiros, a obra foi questionada por parentes e amigos de Belchior, mas segue como o relato mais completo sobre sua vida. O advogado Jorge Cabral também um livro sobre Belchior (A história que a biografia não vai contar), relatando os meses que recebeu o compositor em sua casa. Jorge foi um dos fãs que abrigaram Belchior durante os anos
de reclusão 

 

 

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