O quarteto Argonautas lança seu segundo álbum oficial, Jangada Azul, nove anos após seu primeiro disco oficial, Interiores. O grupo foi criado na segunda metade dos anos 1990 com os amigos de colégio Rafael Torres, Raphael Gadelha e Ayrton Pessoa. Todos com formação em diversos instrumentos e um horizonte musical que passea bastante pela música erudita, jazz, rock dos anos 1960, tango e, sobretudo, música brasileira tradicional e popular.
Ao conhecer o poeta Alan Mendonça, Ayrton (o Bob) compôs sua primeira canção. Então eles passaram a tentar usar os conhecimentos de harmonia erudita na composição de músicas em ritmos brasileiros e daí muita coisa aconteceu. Ganharam um prêmio pela composição Guerra de Brincantes, de Raphael Gadelha (baixo, violão, flauta). O mesmo Raphael mudou de cidade, algumas formações vieram e se foram. Gravaram um CD demo caseiro e em 2009 lançaram Interiores, um disco sério e simples em parceria com Ronaldo Lage (percussões e bateria) e Germano Lima (baixo).
[QUOTE1]Atualmente com Igor Ribeiro (bateria e percussões) e Ednar Pinho (contrabaixo acústico), o epicentro de composições ainda fica concentrado na dupla de multi-instrumentistas e vocalistas Rafael Torres (clarinete, flauta, acordeom, piano, viola caipira, violão, guitarra) e Ayrton (piano, acordeom, violão, bandolim, viola caipira, sintetizador, guitarra). Agora com novas parcerias e um universo musical expandido, eles nos trazem um álbum leve e vigoroso com composições novas e músicas do início da banda que nunca foram gravadas.
NILBIO THÉ
nilbiothe@gmail.com
Nilbio Thé é coordenador do MBA em Negócios Digitais e da especialização em Desenvolvimento e Programação de Games da Unichristus.
SERVIÇO
Jangada Azul
Independente, 12 faixasQuanto: R$30
'JANGADA AZUL' FAIXA A FAIXA
1.MAREIA
De Rafael Torres, uma canção com arranjos vocais e uma letra cheia de aliterações. Trata-se de uma súplica sertaneja com uma elegante linha de baixo e uma sanfona preenchendo a música. Apesar da letra triste, porém esperançosa, no momento em que vira uma oração a Iemanjá, é uma música em Lá maior, alegre, com belos acordes abertos realmente evocando a luz e o calor de que fala a letra.
2.ILAÇÃO
Uma cantiga/toada a três vozes tendo como instrumentos principais apenas violão e metalofone e alguns “instrumentos flutuantes”, como um piano e com uma letra que mais parece uma brincadeira de criança. A mais singela do disco. E uma das mais antigas do grupo, só registrada agora e que remete a alguns dos melhores momentos da música mineira dos anos 1960 e 70.3.FORTALEZA
Um sarcástico bolero-ode ao ato de fazer música e arte na cidade de Fortaleza. Parece uma canção que deveria ter entrado em Interiores. Apesar de não ser uma bossa nova, percebe-se a influência Tom Jobim nos arranjos.4.AQUI NESTA ILHA
Música de Ayrton sobre um texto de Joyce Nunes. Com uma harmonia de poucos acordes (algo também que não é lá muito comum no grupo), a música se estrutura num ciclo de crescimento começando tímida e misteriosa com muitos silêncios se tecendo num fundo harmônico sendo feito pelo acordeom.
5.CHORO DE MANDACARU
Outra música trovadoresca de inspiração sertaneja. Um duo de violões e vozes trás singeleza e delicadeza a esta canção de clima rural.
6.OUTROS AMERICANOS
Composição de Ayrton Pessoa. Também começa discreta ao piano e cresce até a entrada de um sutil e poderoso arranjo de bateria de Igor Ribeiro. Aqui também temos a utilização de um instrumento inédito no grupo que sempre prefere instrumentos acústicos: um sintetizador e também de uma guitarra tocada por Rafael Torres.
7.CANTIGA DO SERTÃO
Uma letra poderosa que remete a João Cabral de Melo Neto em seu Morte e Vida Severina. Apenas o violão de Nonato Luís em participação especial, voz e nada mais.
8.PLANTARIA
Primeira composição de Ayrton com letra de Alan Mendonça. Uma espécie de Refazenda contemporânea com um ritmo bem marcado ao violão e à bateria de Igor, graves bem colocados e um belo arranjo de flauta fazendo contraponto a uma melodia simples e bonita que além da canção de Gilberto Gil remete também à pernambucana Banda de Pau e Corda com seu arranjo vocal. Uma das melhores faixas para perceber o entrosamento instrumental do quarteto.
9.DE VOLTA AO COMEÇO
Uma canção extremamente jobiniana que tem a essência de músicas como Retrato em Branco e Preto.
10.MAREIA
Novamente uma das primeiras composições do grupo, só agora registrada. Um samba ao mesmo tempo discreto e com presença. Letra de Alan Mendonça e harmonia de Rafael Torres. Fosse nos anos 1970, poderia facilmente ter sido uma das canções de João Bosco e Aldir Blanc interpretada por Elis Regina. A linha de baixo de Ednar, que permeia a harmonia que brinca com alguns graves, merece atenção.
11.MIUDILHA DO BEIJO
Uma faixa instrumental de amor e dor baseada em violão e sanfona que evoca as sensações de Valsinha, de Chico Buarque de Holanda e Vinícius de Moraes.
12.CHORO DELA
Um chorinho feito para Bia, filha de Rafael Torres, sobre os desafios e descobertas da paternidades. O acompanhamento com violão , pandeiro e flauta dão a sonoridade clássica de nosso querido chorinho.